Gastámos a nossa perturbação toda com o mais recente massacre escolar nos E.U.A. ou será que ainda temos uma réstia de compaixão para a carnificina em curso na Síria? Não há sarcasmo na minha pergunta, ainda que insinue a parcialidade ocidental das comoções. Talvez seja um defeito, mas talvez seja t
O dia de S. Valentim é muito estranho para mim. (Céus! sem querer comecei a rimar, um versejar manhoso típico de S. Valentim). É-me estranha a data, porque soa a celebração forasteira mas, por outro lado, está instituída duma forma tal que parece que sempre cá se fez.
Gosto de escrever sobre a América. Faço-o com esta consciente indelicadeza de usar nomenclatura de continente para me referir ao país (talvez por ser uma nação mais global que qualquer mero continente). No entanto, chegou a hora de confessar que os E.U.A. (a letra “U” é de “Ubíquos”) já não são o ún
A 2018 ainda restam 11 meses de vida. O tempo podia ser de rescaldos agora que termina Janeiro, mas prefiro antes embarcar em previsões seguras. Desconheço qual será palavra do ano eleita em Dezembro, mas um dos nomes do ano será, sem sombra de dúvidas, o da Selma Uamusse.
“Adoro o cheiro a napalm pela manhã” – dizia o sádico coronel interpretado por Robert Duvall no filme Apocalypse Now. Se recordarmos que napalm é uma substância pegajosa e inflamável, não vai ser difícil encontrar analogias que nos enfiem a carapuça do Duvall. Pegajosas e inflamáveis – quem é que nã
Estou embalado por recordações. “Embalado por recordações” bem poderá vir a ser o epitáfio gravado na minha campa. Agora que me preparo para verter memórias, perdoem o despropósito egoísta – não é vaidade, é embalo.
Ontem à noite na RTP, José Rodrigues dos Santos anunciava que após o intervalo do Telejornal se iria falar do “filme do momento”. Dos Santos estava redondamente enganado. Ele referia-se ao “A Hora Mais Negra”, fita que retrata um período particular da vida de Winston Churchill. Este não é, de todo,
É sexta-feira e, caso o fim-de-semana não seja fim-do-mundo, podemos todos festejar esta notável sobrevivência aos primeiros dias de 2018. Não é um alarmismo descabido da minha parte, tendo em conta que o ano começou com intimidações atómicas. A maneira como Kim Jong-un e Donald Trump se ameaçaram a
2017 foi marcado por pulhice e vilania, o que não é uma novidade. Por isso mesmo, optei por terminar o ano com uma lista de escroques que o marcaram. Os 7 vilões seleccionados não serão apresentados com uma ordem definida nas suas hierarquias de pulhice. São 7 em 2017, que escolherei enquanto for es
Era suposto eu estar a caminho de Belém (na Palestina) e dei por mim apeado numa mistura de Babel e Babilónia. Babel, com o seu grande zigurate: torre de confusão e condenação. Babilónia, pelo império obsceno, imponência que aguarda o declínio. Ou seja, eu devia estar a caminho de Belém, a caminho d
Dou seguimento às minhas recomendações para prendas de Natal. Após me ter debruçado sobre um par de filmes na semana passada, hoje será dia de apontar para um livro (que dispensa apresentações, mas nunca recomendações).
Tenho sido esquivo ou inconsequente nas recomendações que aqui faço todas as semanas. Para me redimir, e porque entrámos na azáfama de compras natalícia, vou usar o espaço de opinião para recomendar (enquanto opino) algumas pechinchas. Hoje ficar-me-ei por filmes em DVD, dois em particular de que go
Não há nenhuma frase boa para começar isto. Não há como querer começar. Mas há um aviso, um danado de um aviso luminoso no meio de tanto pesar: tudo aquilo que de bom eu disser sobre o Zé Pedro, disse-o em vida, disse-lho em vida.
Há duas semanas escrevi sobre este tema e deixei-o em aberto, mas não pelo intuito de tão cedo lá voltar. Relativamente aos escândalos de assédio sexual (e o escândalo de não nos escandalizarmos há mais tempo) escrevi com a certeza de ser tudo muito errado, mas com incertezas sobre o próximo passo.
Livros de Bolso Europa-América nº 430. Capa amarela, uma ilustração canhestra e letras vermelhas a darem-nos o título: “O Feiticeiro de Oz”. Não consigo desfazer-me das lembranças pormenorizadas que tenho deste livro, nem que quisesse. Entre os meus 8 e 10 anos requisitei-o várias vezes na Bibliotec
Há uma semana o caso Weinstein mereceu-me notas muito breves, mais debruçadas até em questões linguísticas que chauvinistas. A leveza com que abordei o assunto não foi por achá-lo de pouca importância, nem para me escusar de ser só mais um a bater no ceguinho – não é ceguinho, nem coitadinho; não há
O grande tema da semana passada ainda vigora como o grande tema desta semana. É pesado, difícil, e fazemos-lhe justiça se não o alavancarmos rapidamente para fora dos nossos pensamentos. O chão ainda fumega, e as cinzas espalham-se até pelo sopro dos que tentaram assobiar para o lado. Foi um tema (q
Sou duma terra ardida, é o que sou. A minha proveniência é essa, um sítio que ardeu e um país que vem ardendo – este é o gerúndio que me entristece e enfurece na mesma medida. Entristece-me ser natural duma terra ardida, enfurece-me quando garantem que o natural é que a minha terra vá ardendo. Tudo
Olá. Sou a pessoa que aqui escreve todas as semanas com excepção da transacta. O interregno forçado, logo durante o rescaldo de autárquicas portuguesas e independanças catalãs, deveu-se a eu ter sido abalroado por um vírus insuportável, uma daquelas gripes que fazem notícia por matar velhinhos no In
Quando me preparava para escrever um texto sobre as autárquicas, eis que a notícia duma morte me puxou violentamente a atenção. Faleceu um nonagenário notável, que não se importava de ser filmado em roupão, e que era famoso pelo casarão onde acolhia criaturas especiais. Mas não eram coelhinhas, eram
Thales de Menezes é o nome a fixar. Ou então, o nome a esquecer – desde que seja aquele esquecimento rancoroso do despeito, de alguém que não merece ocupar a nossa memória (escolhemos ignorá-lo quando nos lembramos de o detestar).
Estamos em Setembro, o mês em que aqui me estreei. O “aqui” da última frase tanto pode ser o SAPO24 como o plano de existência onde nos encontramos. Vim desaguar a estas crónicas semanais em Setembro de 2016, mas já me tinha afogado de vida num Setembro mais remoto. Sei bem o que é começar em Setemb
Vou falar de futebol. Aqueles que estão saturados de tal assunto, que acham desperdiçado o tempo a falar dele, ou que se enfurecem com a importância desmedida que lhe é atribuída, podem ficar por aqui mais um bocadinho; não vou contrariar-vos. Eu, que gosto do “desporto rei”, dou-vos razão.
Já passaram 4 dias, e o assunto parece ter esmorecido com naturalidade. Talvez a matéria mais presente em relação ao “combate do século” (que em Portugal foi visto em directo por volta das 5 da manhã de domigo) esteja nas horas de sono que muitos ainda tentam recuperar. O embate entre o norte-americ