É quarta-feira. Gostava muito de já não trazer na ponta dos dedos esta vontade de escrever sobre a última madrugada de domingo para segunda. Na verdade, eu queria mesmo era deixar de escrever de todo sobre os Oscar, porque afinal é quarta-feira e é 2017 e eu já não vou para novo. Mas é impossível; o
Esta semana tem-se assinalado o 50º aniversário do nascimento de Kurt Cobain. Contamos com o verbo no condicional, os 50 anos que Kurt “faria”. Os fãs deixam passar o condicional, ajuntam-se a assinalar meio século, mas no fundo sabemos que a contagem devia ser outra: passam 23 anos desde que Cobain
Duvido que se vá alguma vez tornar clássica a pergunta “Onde é que estavas a 19 de Dezembro de 2016?”, o que é pena, pois parcialmente saberia dar uma resposta. Não são assim tão claros os compromissos que tive nessa segunda-feira, mas é impossível esquecer que a determinada altura do dia estive sen
O Acordo Ortográfico de 1990 é óptimo. Acreditem, é mesmo. É das coisas mais excitantes que aconteceram à Língua Portuguesa, não tenho a menor dúvida. É óptimo, de tão flagrante ser a sua inconsistência. É a semente chocha de vigorosos revoltados: no mesmo país onde nunca nascerão durões como Hemmin
Scorsese não é um Dreyer. Andrew Garfield não é um falante de português. “Silêncio” não é um Livro de Job. Portugal não é uma cidade pequena. Então porque é que eu continuo de orelhas levantadas?
Até há uns 7, 8 anos, a minha maior decepção com Donald Trump correspondia ao episódio 10 da 8ª temporada do seu concurso The Apprentice, quando o milionário me pareceu pouco interventivo, e permitiu que a jogadora de poker Annie Duke derrotasse o músico Clint Black num concurso de jingles publicitá
Nunca mais é Dezembro, esse longínquo e maravilhoso mês quando a sigla TSU já andar esquecida e não estiver a concurso para palavra do ano. Nem tampouco singrarão “caranguejola” ou “traquitana” (estou a avançar palavras possíveis para designar esta inusitada coligação entre PSD, PCP e BE. Leram aqui
Este relato é tão absurdo quanto real. De sábado para domingo, no espaço de 15 segundos, passei de estar sossegado – calado, mãos nos bolsos, olhos no céu - para estar a iniciar um comboio humano que não se coibiu de berrar a clássica “Mamãe eu quero”. Da serenidade à euforia foi necessário apenas
O que me proponho de seguida é enumerar 10 personalidades (vivas!) de 2016. Algumas são as mais importantes, outras são as mais importantes no instante em que escrevo; de algumas gosto, outras odeio, outras avizinham-se indiferentes. E para atestar que são marcantes, não vou meditar sequer no assunt
2016 não é para balanços, foi de abalos. Até aceito que exista alguma coisa birrenta e infantil que nos faça dizer todos os anos “este foi mau, nunca mais acaba”, mas parece-me que em 2016 afirmamo-lo com intenção. Este ano foi mau. Nunca mais acaba.
Escrever uma carta ao Pai Natal não me pareceu tarefa assim tão complicada quando mo propuseram. Só que, ao aceitar o repto, estava a ignorar um par de desafios - e não, nenhum desses é escrever a alguém em quem não acredito. Aliás, o meu historial de escrita de cartas está intimamente ligado a dest
Bernardo Bertolucci já me está a irritar e ainda só escrevi o nome dele. Pela lógica só teria um “L” antes dos dois “C” no apelido, mas obrigou-me a ir confirmar, não fosse ele arrogar-se os dois “L” de melhores cineastas italianos como Fellini ou Rossellini.
Não fazia ideia, mas pelos vistos sou um patriota. Estava distraído, mas parece que sou. Afinal gosto de viver por cá, e não só nesse Portugal lindo que anda a empanturrar-se de turistas, ou a mascarar-se de paraíso em listas do Buzzfeed. Não, essa beleza garantida não estimula nada tão aguerrido qu
Para as pessoas da minha geração, o Alec Baldwin pode muito bem significar aquele tipo que, no final dos anos 80/início dos 90, era tão bem parecido e sucedido que até conquistou a Kim Basinger. Ou então recordamo-lo como o mais velho de 4 irmãos actores, e o único deles com aparência de ter tido bo
É verdade que ele tinha mais de Dustin Hoffman que de Sean Connery, mas durante muito tempo olhei para o Leonard Cohen como uma espécie de James Bond. O espião e o trovador sempre abotoados nas casas certas, sedutores, infalíveis e predestinados a salvar o mundo – no caso do 007, era a salvação cont
Começo o texto recordando-vos duma coisa óbvia: eu estou no Passado. Qualquer pessoa que escreve é uma voz do Passado em relação a quem a lê. Repito, tenho consciência de que isto é óbvio, mas ainda assim a chamada de atenção torna-se pertinente considerando o Passado em que eu estou e o Presente e
Confesso que o único Halloween português que aprecio é um rapper com esse nome, não a festividade. Por isso, se me apanharem a elogiar o Halloween de Odivelas não será como quem fala do Carnaval de Peniche ou das Cavalhadas de Vildemoinhos, mas sim do músico luso-guineense. Concluindo-se que não mor
Tenho seguido com pouca atenção o caso Pedro Dias. Tão pouca que o único comentário que repito na minha cabeça se prende com aquelas duas fotografias recorrentes do fugitivo: parecem-me inequivocamente a mesma pessoa. Arrisca-se a ser o comentário mais rigoroso e invulnerável que teci em todo o 201
Se houvesse um comité aleatório constituído por pessoas com quem me tenho relacionado de alguma forma, seja a minha mãe, o estafeta com a encomenda de cordas de guitarra ou o mecânico onde deixei o carro há 3 semanas, estou certo que por unanimidade eles me atribuiriam o prémio da pessoa mais neglig
Há coisas com graça que se escondem debaixo dos nossos narizes, outras debaixo das nossas línguas. Até hoje, por exemplo, nunca tinha considerado esta piada global: uma das poucas frases em alemão que muita gente sabe reproduzir é dita no mais cerrado sotaque americano de Boston. Não ficando a graça
Estou a prender o olhar na barra de espaços do meu computador e a fazer contas (nessa matemática ilógica e inconsequente que nunca me deixou em vias de chumbar) à quantidade de vezes que devo premi-la para redigir um bom silêncio. Trago uma história má que termina com um bom silêncio. Bom por ser ju
Se o caro leitor gosta de provas escaldantes provenientes de sites alojados em moradas manhosas (mais ilegítimas que os bastardos de Juan Carlos de Borbón), este cronista não é adequado para si, mas estende-lhe a mão. Se sabe tudo acerca das vigas mestras do World Trade Center, priorados de Sião, i
Acabo de me aperceber que tenho menos opiniões sobre o mundo do que impaciências. No fundo eu quero é que o mundo se despache, e os meus constantes momentos de silêncio são sobretudo os de uma pessoa que está à espera (por muito que as sobrancelhas insinuem qualquer tipo de reflexão). Ainda agora a