Quando a sensação térmica no estado norte-americano do Iowa rondava os 40 graus celsius negativos, ao início da manhã, já dezenas de eleitores se alinhavam em fila à entrada de um colégio privado na cidade de Indianola para ver Donald Trump, num dos seus últimos eventos de campanha antes do arranque da corrida Republicana para a nomeação do candidato à Casa Branca, agendado para a noite de segunda-feira.
Em declarações à agência Lusa, Debbie Cornell, uma eleitora Republicana de 66 anos, disse não estar minimamente preocupada com os problemas judiciais que Trump enfrenta.
“Digo-lhe porquê: durante 75 anos ele nunca teve nenhum problema com a justiça. Decidiu então voltar a concorrer para a Presidência e aparecem-lhe dezenas de acusações?! É tudo falso e é interferência eleitoral, na minha opinião. Ele é inocente!”, disse a sexagenária, repetindo os argumentos do magnata, de que tudo não passa de “uma caça às bruxas” liderada pelo atual Presidente, o Democrata Joe Biden.
“Tem o meu voto porque ele não é como os outros, ele faz o que promete. É um defensor das pessoas e tenho a certeza que ele vencerá a eleição de segunda-feira”, defendeu, por sua vez, Gayle Collins, 71 anos, numa sala lotada de pessoas que esperavam para ver Trump.
Contudo, Debbie e Gayle apenas conseguiram ver Trump através de um grande ecrã, uma vez que a grande afluência ao evento obrigou a organização a dividir os eleitores em dois salões, situação que acabou por deixar várias pessoas desiludidas.
Bob Snyder e a sua nora, Ashley Snyder, também se deslocaram a Indianola para ver e ouvir Trump, “o homem certo, no momento certo”.
“Estou aqui para apoiar Trump, porque ele é uma pessoa muito forte, quer dentro da corrida presidencial, quer fora. Sempre foi um indivíduo poderoso e posso dizer que não estou nada preocupada com os problemas judiciais que ele enfrenta”, admitiu Ashley Snyder, de 36 anos.
“Talvez há quatro anos eu estivesse preocupada, mas agora não, porque as acusações não param de aumentar e acho que as pessoas estão já a abrir os olhos e a ver todos os esquemas e toda a lama que está a ser atirada contra ele. Trump está a conseguir encontrar a sua saída desses problemas e é preciso uma pessoa forte para conseguir fazer isso”, avaliou ainda, em declarações à Lusa.
Tese semelhante foi defendida pelo seu sogro, que confia na ”forte liderança” do magnata para voltar a comandar o país.
“Ele é o oposto de tudo o que o Biden é. Donald Trump irá proteger a fronteira, baixar a inflação, irá baixar os preços da gasolina e da energia. O país precisa de um líder forte como ele neste momento”, indicou, vestindo uma camisola com o nome do candidato republicano.
Miriam Schulz, de 74 anos, caminhava com dificuldade, com o auxílio de uma bengala, enquanto procurava um lugar para se sentar numa sala já lotada que se preparava para cantar o hino nacional norte-americano
No final da entoação do hino, a eleitora septuagenária explicou à Lusa os motivos que a fazem acreditar que Trump é o candidato certo para voltar a liderar o país e rejeitou qualquer culpa do magnata nos casos judiciais que enfrenta.
Tal como vários dos apoiantes do ex-Presidente, também Miriam Schulz repetiu teorias de conspiração para justificar o ataque ao Capitólio (sede do Congresso norte-americano) no dia 06 de janeiro de 2021, quando apoiantes de Trump tentaram impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.
“Trump é um homem muito confiante, ele percebe de negócios e de pessoas. Os restantes candidatos são boas pessoas, não tenho nada contra eles, mas acredito que Trump é o melhor”, começou por dizer, prosseguindo com os seus argumentos perante os problemas judiciais que enfrenta o empresário.
“A maioria foi-lhe imputada para o tirar da corrida presidencial e alguns dos casos são simplesmente ridículos, como o que está a decorrer em Nova Iorque”, indicou Miriam Schulz, referindo-se ao julgamento civil que Trump enfrenta por fraude, por alegadamente inflacionar o valor dos seus ativos para obter condições favoráveis junto de bancos e seguradoras.
“Ele não fez nada de mal, fez o que qualquer pessoa faria se quisesse vender uma casa: colocá-la no mercado com um valor superior”, argumentou.
Mas nem todos os eleitores presentes no evento são apoiantes de Trump, com vários “curiosos” e indecisos a deslocarem-se a Indianola para ouvir as propostas do ex-Presidente, conforme confirmaram à Lusa dois jovens estudantes.
“Estou aqui como observador para ver o que Trump tem a dizer. Ainda não decidi em quem vou votar, na realidade”, disse Haiden Adams, de 22 anos, enquanto sacudia neve do seu gorro.
“Vim também como observador, estou curioso para saber o que Trump tem a dizer, mas não sou um fã dele, de todo”, afirmou, entre risos, o jovem Henry Denver, também de 22 anos.
O processo eleitoral que vai determinar, ao longo dos próximos meses, os candidatos à Presidência dos Estados Unidos arranca na segunda-feira no pequeno estado rural do Iowa (centro-oeste) com o ‘caucus’ Republicano.
Os ‘caucus’ são uma especificidade da democracia direta norte-americana que correspondem ao nível mais básico da política partidária, as “bases” de um partido.
Os ‘caucus’ traduzem-se em assembleias locais, que nas áreas rurais podem juntar algumas dezenas de pessoas e, nas urbanas, várias centenas.
Uma das principais diferenças entre ‘caucus’ e primárias é o tempo concedido para a votação e os métodos pelos quais as pessoas podem votar.
Nas primárias, as pessoas podem comparecer às urnas e votar durante todo o dia da eleição, desde o início da manhã até o encerramento das urnas à noite, tendo ainda a opção de votar por correspondência.
O ‘caucus’, como o que acontecerá no Iowa, é realizado à noite e os eleitores devem comparecer pessoalmente para participar, exceto em alguns casos isolados, sendo dirigidos por partidos (ao contrário das primárias, que são organizadas pelos governos estaduais).
Haverá dois temas principais da agenda em cada local do ‘caucus’ Republicano: realizar uma votação vinculativa para o candidato presidencial do partido; e eleger delegados para participar nas convenções do condado, que é a próxima etapa no processo de vários níveis de eleição de delegados para participar da Convenção Nacional Republicana, que decorrerá em Milwaukee neste verão.
Trump lidera as sondagens no Iowa com 48%, seguido pela ex-embaixadora norte-americana junto da ONU Nikki Haley que, com 20% das intenções de voto, conseguiu ultrapassar o governador da Florida, Ron DeSantis, que acumula agora 16% das preferências dos Republicanos, de acordo com um novo levantamento das intenções dos eleitores divulgado na noite de sábado.
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