Um projeto de lei sobre esse tema delicado, que divide a opinião pública britânica, será examinado na próxima sexta-feira pelos deputados da Câmara dos Comuns, por iniciativa de uma deputada da maioria trabalhista.
"Se a lei estivesse em vigor quando meu pai morreu, poderia ter tido uma morte muito mais segura e suave" e "poderíamos ter passado por isso emocional e psicologicamente juntos", afirma Anil à AFP, na sua casa de Walthamstow, no nordeste de Londres, recordando que o seu pai não avisou a ninguém que ia se matar.
Na estante da sua sala, uma fotografia mostra a sua mãe, que morreu por causa de um cancro em 2008, e o seu pai, quando a doença ainda não o havia debilitado muito.
"No momento da sua morte, estava verdadeiramente incapacitado, tinha perdido a sua dignidade corporal, as suas funções básicas de mobilidade, sofria dores neurológicas muito intensas e muitos efeitos colaterais da doença", lembra Anil, de 35 anos.
"Mal podia levantar a mão para se alimentar", acrescenta.
Situação atual "perigosa"
O seu suicídio, um dia antes de seu aniversário de 60 anos, foi um choque para toda a família.
Como o suicídio assistido é ilegal e punível com 14 anos de prisão, Ian suicidou-se sem contar a ninguém próximo, depois de comprar comprimidos em segredo num site.
"Ele era muito determinado e teimoso em não querer perder sua independência e as suas habilidades físicas. Então eu acho que não é surpreendente que ele tenha decidido controlar o fim de sua vida", explica Anil.
Os que se opõem à legalização do suicídio assistido temem que isso possa incitar as pessoas vulneráveis a acabar com as suas vidas.
Mas para Anil, "a lei atual é perigosa. Ela força-os [pessoas moribundas] a tomar decisões radicais, em completo isolamento, sem proteção. Isso é exatamente o que o meu pai fez", disse. Para Anil, é "vital" que a lei mude.
Após a sua morte, os seus entes queridos descobriram que Ian se tentou matar duas vezes antes de conseguir, um final que os médicos atribuíram a problemas gástricos.
"O que fez foi obviamente um ato de recuperação da autonomia, mas também foi extremamente perigoso e arriscado", devido à legislação vigente, considera Anil.
Nas horas após a morte, a polícia chegou na casa do pai de Anil, como é habitual numa situação assim, e confiscou o seu telefone, computador, e também os de Anil e da sua irmã.
A polícia olhava "com desconfiança"
"Essa experiência foi muito traumática e perturbadora", conta Anil, que lembra ter sentido a polícia olhar para ele "com desconfiança".
Desde a morte do pai, Anil participa na associação Dignity in Dying (Dignidade ao morrer), que faz campanha no Reino Unido pela legalização do suicídio assistido.
Esta associação defende o projeto de lei apresentado pela deputada trabalhista, que prevê autorizar na Inglaterra e no País de Gales adultos que sofrem uma doença incurável e que tenham uma expectativa de vida inferior a seis meses, com autorização de dois médicos e um juiz, e que sejam capazes de tomar sozinhos os medicamentos que causariam a morte.
Um quadro rigoroso, muito mais do que o vigente, por exemplo, nos Países Baixos, na Bélgica ou no Canadá, e que contém "medidas adequadas de proteção contra a coerção", defende Anil, que participou em vários encontros organizados pela Dignity in Dying nos últimos meses.
Anil declara-se "otimista" e lembra que várias sondagens recentes mostram o apoio da maioria dos britânicos ao suicídio assistido.
Na próxima sexta-feira, Anil voltará ao Parlamento quando os deputados debaterem o texto, esperando que sejam "corajosos".
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