A exposição é o resultado da residência artística internacional de um ano na Künstlerhaus Bethanien, de Berlim, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
“Propus-me a trabalhar e a organizar uma série de fotografias que fui tirando em ‘photomatons’ [cabines de fotografia], a partir do final de 2003, mais ou menos na altura em que entrei para o Ar.Co [centro de arte e comunicação visual]. Era jovem, estava a estudar, senti-me atraída por aquele material fotográfico e fui tirando fotografias nessas cabines de rua”, revela Andrea Brandão.
Ainda tira uma fotografia por mês, sempre a 26, que representa o seu dia de aniversário. Mas a artista plástica, natural de Vila Nova de Gaia, admite que o seu trabalho, desenvolvido até agora, “não é de todo autobiográfico”.
Acabou por “deixar de ser rigorosa e metódica”, já não anotava o mês ou o ano e, se estivesse a ler um livro, “a fotografia ficava lá esquecida, como marcador”.
“Tenho reunidas bastantes, não chegam a duzentas, mas muitas acabei por não tirar, outras ficaram esquecidas dentro de cadernos ou livros. Agora vou organizá-las num livro de artista que não vai estar nesta exposição, mas vai ser apresentado numa feira, na ‘Friends with Book’, em Berlim”, revela Andrea Brandão, acrescentando que o lançamento desse trabalho decorrerá ainda durante o mês de outubro.
“É uma espécie de arquivo quebrado ou desintegrado. Tem a ver com a criação de uma imagem, neste caso da minha própria história, da minha autoimagem, que de repente se pode organizar da maneira que eu quiser”, realça Andrea Brandão.
A exposição que vai ser inaugurada hoje é uma instalação, que a artista plástica refere como “situação”.
Engloba várias fotografias, um vídeo, uma frase e uma escultura de temperatura e outra de luzes. Está organizada como se fosse um espelho, “com vários jogos de luzes e reflexos”.
“Uma imagem pode ser verdadeira ou falsa. Nós, como sociedade, estamos saturados de imagens enganadoras e precisamos de ser críticos acerca delas (…). Criei uma situação nesta exposição e espero que se sinta e se entenda a ligação entre estes elementos aparentemente distantes. Quase como se fosse um sentimento estranhamente familiar. Espero que haja um abrandamento do espetador, que terá que se questionar perante estas imagens: de que forma é que a minha imagem pode ser um espelho para o outro”, explica Andrea Brandão.
“Uncertain Image” ("Imagem incerta") surge no final da residência artística mais longa que Andrea Brandão realizou até hoje.
“Sempre me candidatei a residências, tivessem elas bolsas associadas ou não, pela deslocação física e interior que nos propõe. Muitos artistas portugueses de referência já tiveram acesso a esta bolsa em concreto, por exemplo, o Rui Calçada Bastos. Há uma herança e uma história de artistas que fizeram o seu percurso por aqui. Por isso é um imenso prazer também poder fazer parte”, declara a artista plástica.
A exposição é inaugurada hoje, ao final da tarde, em Berlim. Pode ser visitada até 28 de outubro.
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