
Mas há uns mais iguais do que outros… E os resultados traduzem também essa desigualdade. É isso que temos que aceitar, encarar e interpretar.
Mais ou menos instruídos, grande parte dos votantes vota no desempenho eleitoral e não nos conteúdos dos partidos. Durante a campanha e nos dias seguintes são justificados os resultados pela maneira de falar, sorrir, gesticular, olhar, dos candidatos que representam os vários partidos. As ideias que representa não são avaliadas e são substituídas pelas frases circunstanciais, pelo porte, pelo estilo. Os partidos com mais dinheiro têm mais balões, mais cartazes e mais arruadas e isso eterniza-os em presenças futuras. De modo que os resultados não são exactamente como no futebol e seus adeptos, mas tem uma componente que está lá perto. É isso que temos que aceitar e, apesar disso, lutemos para que o voto universal permaneça. É a única forma possível de democracia. Nas eleições autárquicas o fenómeno repete-se, mas poderá haver maior avaliação dos candidatos e suas obras. No entanto, para além destas poderia haver outras formas de democracia. Digamos, por exemplo, que os directores clínicos e os enfermeiros directores dos hospitais e dos Centros de Saúde deveriam ser eleitos pelos respectivos grupos profissionais e o plano orçamental e de gestão ser conhecido e discutido por todos os profissionais, ou, pelo menos, pelos mais envolvidos.
A assinatura do contrato-programa dos serviços é apenas uma formalidade em que a Administração impõe uma “concordância”. Isto não seria nenhuma “bagunça”, mas seria sim democracia com envolvimento e conhecimento dos profissionais.
Vejo que, no concelho do Barreiro, onde nasci, mas onde não voto, tem como freguesia com maior percentagem do Chega, a freguesia de Coina/Palhais, a mais periférica, a de passado mais rural, eventualmente a que tem mais dificuldades económicas e sociais. É preciso chegar lá e falar com as pessoas não de forma doutrinária, nem com promessas, mas com obras reais e ensino. Vejo também que em Lisboa, as freguesias com mais população a nível universitário têm menos de 10% a votar CHEGA. Olhando para isto, até parece que há uma luta de classes… Os que estão acima distanciam-se daqueles brutos reais. Os que estão abaixo protestam.
Talvez se possa chegar junto destes. Os Governos, entre eles o actual, dando resposta às necessidades: na Saúde, na Habitação e nos Salários. Para isso é necessário dinheiro. E para haver dinheiro é necessário haver impostos. Para tal deverá negociar com o PS taco a taco cada Orçamento Geral de Estado (OGE), em que este último não deverá olhar a tácticas, mas ser negociador de facto. Os pequenos partidos de esquerda não terão necessidade de tácticas, já tiveram oportunidade de negociar (ou não) com o PS no OGE de 2022. À Esquerda terão todos que negociar sim, em relação às eleições autárquicas que se aproximam. Se quiserem vencer o CHEGA.
Descomplicar com palavras simples
Lembremos que o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália tomaram o poder, não por via de terem ganho as eleições, mas por via parlamentar, tendo uns sido designados pelo presidente e os outros pelo rei. Lembrando uma fonte directa (Hawbsman) e uma fonte indirecta (Richard Zimmler) havia pessoas a mudarem de uma manifestação contra, para outra a favor, uns dias depois.
E é preciso deixar o discurso do desabafo e doutrinário e explicar ao maior número de pessoas. Explicar a vida quotidiana.
Por duas vezes me meti em aventuras eleitorais, já faz uns anos. Perdi sempre, mas não me arrependo. Numa tive o privilégio de acompanhar o Arquitecto Ribeiro Teles e ouvi-lo explicar junto dos terrenos cultivados, a possibilidade de fazer agricultura “biológica”, sem fertilizantes e inseticidas químicos. Talvez não tivesse dado votos, mas a ideia espalhou-se e deu vários frutos.
A outra oportunidade foi participar com José Maria Castro Caldas numa reunião alargada em Sines, na qual ele explicou, com palavras que todos percebiam, o que era a inflacção, o que era o défice, o que é a dívida, o que tinha sido a crise de 2008, o que é a sustentabilidade e o desenvolvimento, sem doutrinar. Esses termos que as pessoas ouvem todos os dias nos vários canais de televisão e na boca de vários comentadores, encriptadas e nebulosas. Mas “falam muito bem”. Não há muitos Ribeiro Teles, nem José Maria Castro Caldas. Mas podemos fazer um esforço.
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