Alexandra Lucas Coelho é jornalista e escritora. Publicou três romances, cinco livros de não-ficção e tem no prelo uma série. Como repórter, primeiro na RDP, depois no “Público”, cobriu várias zonas de conflito, da ex-URSS à América Latina e ao Médio Oriente. Foi correspondente em Jerusalém e no Rio de Janeiro. Recebeu vários prémios de jornalismo e o Grande Prémio de Romance e Novela da APE.
Os Clubes de Raparigas são um dos muitos projectos do Parque Nacional da Gorongosa, muito além da conservação ambiental. Como trabalhar com meninas subnutridas, que muitas vezes os pais trocam por tostões, umas garrafas, umas capulanas. Tudo isto numa região traumatizada pela guerra, onde pessoas e
Moçambique está suspenso de biliões desaparecidos, enquanto grandes explorações de riquezas naturais alastram pelo país. Daqui a um mês há eleições, mas a alternância política continua a ser entre facções do Partido. O nome d’O Partido quer dizer Frente de Libertação de Moçambique. Falta a revolução
É candidato. Prendem-no. Recorre da prisão. A candidatura é rejeitada. Recorre da rejeição. Já tem substituto, mas ainda não retirou o nome. Vai ser Haddad, mas ainda é Lula. Suspense até ao fim na mais dramática eleição brasileira deste milénio. O país vai a votos daqui a um mês. Entretanto, os aca
Quem matou Marielle? A pergunta está por toda a parte, no Rio de Janeiro (e não só). A deputada carioca, negra, criada numa favela, prestes a casar com a mulher da sua vida quando foi executada, transformou-se no luto político do Brasil recente, e num grande símbolo de luta. Dezenas de mulheres emer
Este seria — é — um momento de ajudar, fazer, dar de um modo cem por cento descolonizante. De olharmos para a nossa história junta, fazermos jus aos mortos, e ao trabalho incansável dos vivos nesse lugar da memória que é/era o Museu Nacional.
Uma multidão no extremo norte do Brasil expulsou refugiados venezuelanos com paus, pedras e fogo. Mas o problema vai muito além desse ataque. É do governo estadual e do governo federal. Um Brasil que tem no seu DNA a imigração e se mostra incapaz de lidar com o fluxo de refugiados.
Dentro de alguns anos, o Brasil será maioritariamente evangélico e “se fabricarmos uma narrativa esquerda versus evangélicos estamos fritos”, alerta o pastor Henrique Vieira. “Tem de haver uma disputa de identidade e pontes para o diálogo. Se criarmos essa rivalidade estaremos enterrando a democraci
O fortalecimento combativo das mulheres foi das coisas mais emocionantes, mais encorajadoras de ver, e a cada vez que aqui piso parece-me que os saltos estão cada vez mais fortes. Bem precisamos porque nunca as mulheres com voz foram tão ameaçadas, vai fazer meio ano que Marielle Franco foi morta, o
Enquanto continuar a votar, e a acreditar em eleições (o que é uma batalha diária), bem gostaria de votar em políticos que tenham a mania que são diferentes porque, sim, são diferentes. Moralismo não é moralidade ou ética, será mesmo o oposto. Não estou nada interessada em moralismo, mas interessa-m
Se quem é ateu como eu viu milagres, um deles é a existência de Caetano Veloso. Dá esperança à raça humana, pretos, brancos, índios, mulatos, o que cada um pensar que é, e mais virá a ser. A Segunda Abolição da Escravatura tem de passar por aí, ou não o será.
Por tudo o que me faz amar Portugal, do cimo das Penhas Douradas à Fajãzinha das Flores, o que eu gostava que algum primeiro-ministro, algum presidente deste país respondesse assim:
— Porque não um Museu das Descobertas/Descobrimentos?
— Porque estamos em 2018.
O presidente da câmara está alarmado com o caos no aeroporto de Lisboa. Esse alarme aparece-me entre posts em que amigos partilham o metro de Lisboa a abarrotar, as ruas de Lisboa cheias de lixo, antigas papelarias-livrarias-mercearias que agora são não-sei-quê-gourmet e hordas de despejados de Lisb
A direita fez dele o esquerdista que come as criancinhas todas (e o capital) com guacamole, e por duas vezes López Obrador perdeu eleições presidenciais. À terceira, a direita continuou a fazer o mesmo mas a raiva dos mexicanos foi mais forte.
Não há nós enquanto acontecer um milésimo do que aconteceu a Nicol. Não há nosso país. Será um país de merda, aquele que continua a chamar “preta de merda” às Nicol. Seremos todos responsáveis. Estaremos todos naquela roda de gente em volta daquele homem que arrancou Nicol de um autocarro, chamando-
Os EUA secaram a vida a sul da fronteira. Plantaram golpes, patrocinaram ditaduras, gastaram os pobres, mantendo-os pobres. O lado de baixo da fronteira foi o bordel, o bar, a droga, o trabalho escravo. Em baixo o pesadelo, em cima o sonho. Um paga o outro, e não é de agora.
Guardo a beleza do que tantos russos criaram, muitos pagando alto preço: silenciamento, miséria, cadeia, perseguição, morte. É disso que quero falar no dia em que o Mundial de Futebol começa. De como a luta continua. Ir à Rússia agora também pode servir para isso, tirar a bola a Putin.
Separados à nascença, unidos pela vida: PCP & CDS. A união de facto é linda, e quem sou eu para me meter na vossa intimidade. Da mesma forma, quem são vocês para se meterem na minha?
“O Que Faço Eu Aqui?” Foi uma pergunta que fiz várias vezes a mim mesma no Afeganistão. Sobretudo na primeira manhã que acordei em Kandahar, com explosões atrás da cama. Mas é uma pergunta que, na verdade, nunca mais nos abandona quando nos lembramos de lugares como o Afeganistão. Um dos mais bravos
A cada ano, a desvalorização que muitos fazem do 25 de Abril mostra como as cabeças não foram descolonizadas. E enquanto não forem continuará a ser muito difícil travar alguns debates em Portugal. Continua a ser possível, por exemplo, falar-se em Museus dos Descobrimentos e outras pérolas.
Ir ao campo de concentração do Tarrafal devia fazer parte da vida escolar em Portugal. O 25 de Abril está cheio de passado, foi uma revolução sem sangue depois de séculos de sangue. Também por isso está cheio de futuro. Com ele caminhamos.
Tudo é político, corpo é resistência, pele é resistência, beleza é resistência, amor é resistência. E, como no filme “Fevereiros”, tudo se costura, tudo se liga.