O queijo Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida) é feito com o leite de ovelha da raça autóctone Serra da Estrela e a sua qualidade “tem a ver com os pastos”, segundo Joaquim Lé de Matos.
Como os pastores não conseguiram fazer as sementeiras e os pastos existentes secaram, os produtores “vão ter que se endividar ou ter um acréscimo dos custos dos fatores produtivos agrícolas, comprando e dando um suplemento concentrado às ovelhas, porque elas têm que se alimentar”, referiu à Lusa o presidente da cooperativa Estrelacoop, que tem sede em Celorico da Beira, no distrito da Guarda.
Segundo o responsável, com a alimentação das ovelhas com suplementos, aumentará “um bocadinho a proteína do leite, o que significa que vai haver uma redução da produção do leite para queijo Serra da Estrela DOP”.
“Ora, havendo uma redução da produção [de leite], vai haver também uma redução da produção do queijo Serra da Estrela, mas posso garantir que a qualidade mantém-se”, disse.
Joaquim Lé de Matos admite que, devido à seca, “vai haver um impacto na produção do queijo Serra da Estrela”, o que é motivo de preocupação.
A Estrelacoop e a ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela já intercederam junto do Ministério da Agricultura para que seja disponibilizado “um apoio direto ou indireto” para os produtores de leite e de queijo da região.
O dirigente lembra que o problema da seca já não é de agora - a última aconteceu em 2017 -, mas atualmente “há pastores com grande dificuldade” para suportarem os custos com a alimentação dos animais.
Devido à diminuição do leite produzido, os produtores optam por “vender algum número de ovelhas”, para tentarem “mitigar o acréscimo de custos”, embora situações desta natureza sejam “residuais”.
Na região demarcada de produção do queijo Serra da Estrela existem cerca de 105 criadores e se a situação atingir cinco “já é muito”, vaticina.
“[A situação] depende de região para região e de município para município”, rematou o presidente da Estrelacoop, o agrupamento gestor da DOP dos produtos Queijo Serra da Estrela, Queijo Serra da Estrela Velho, Requeijão Serra da Estrela e Borrego Serra da Estrela.
Proprietário de ovelhas Serra da Estrela admite tempos "difíceis”
O proprietário de um rebanho de ovelhas da raça Serra da Estrela disse hoje à agência Lusa que a seca está a ter consequências para o setor e calcula que “os próximos tempos vão ser difíceis”.
Júlio Ambrósio, de 46 anos, residente no concelho de Celorico da Beira, no distrito da Guarda, referiu que este ano já comprou “dois camiões de forragens” para alimentar os mais de mil animais que possui numa quinta, na freguesia de Prados.
O empresário agrícola não tem falta de água na sua exploração, mas na área de sequeiro “a produção de pastagem, nesta altura, é praticamente nula”.
Referiu que a situação, “num futuro próximo, será grave, por causa da falta de forragens”, uma vez que nos meses de maio e junho costuma recolher forragens para a alimentação do próximo inverno e, “se não chover nos próximos tempos”, essa produção “está comprometida”.
“Já fiz a aquisição de forragens extra da exploração, coisa que, por norma, nunca seria necessário. A alimentação, a nível da ração, foi aumentada para suprir as necessidades que os animais não colhem na pastagem”, relatou.
Segundo Júlio Ambrósio, a produção de leite “também caiu um pouco” e os custos aumentaram: “Neste momento já estou a fazer rega, que seria uma coisa impensável num ano normal. Ou seja, já estou a ter custos a nível de energia que não eram previsíveis”.
“Os próximos tempos vão ser difíceis, mesmo que os apoios venham, porque a seca não se resolve vindo os apoios. Os apoios suprem as perdas que nós temos”, assume.
Na opinião do produtor pecuário do concelho de Celorico da Beira, que vende leite de ovelha para uma queijaria que produz queijo Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida), “será impossível que os apoios que venham” possam “cobrir a falta de forragens no futuro”.
Como este ano já comprou dois camiões de forragens, Júlio Ambrósio espera não ter de recorrer novamente ao mercado, mas é uma hipótese que não rejeita “caso a seca se prolongue por mais 20 ou 30 dias”.
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