Organizada por uma plataforma de nove organizações de professores, a manifestação reuniu em Lisboa docentes da zona Sul do país, que entre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República exibiram cartazes a pedir “respeito e dignidade” e a defesa da escola pública.
Ao som de buzinas e tambores, os cerca de 30 mil professores, segundo dados avançado à Lusa pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), entoaram como principais palavras de ordem “Não Paramos”, “Ó Costa Escuta, os Professores Estão Em Luta” e “6.6.23, Já Cá Estamos Outra Vez”.
A plataforma já tinha organizado uma manifestação durante a manhã de hoje, no Porto, com os professores do Norte e Centro, num dia em que também aconteceu uma greve nacional dos docentes.
A greve e as manifestações pretenderam assinalar o simbolismo do dia de hoje coincidir com o tempo de serviço que os professores reclamam há vários anos: 06/06/2023.
O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, disse aos jornalistas que a adesão à greve rondou os 90%, existindo “inúmeras escolas” de Lisboa, Porto e Coimbra” que fecharam.
“O Ministério da Educação tem de saber interpretar os protestos. Os professores estão cansados, já andam na luta há muito tempo, mas não vão parar. Os professores sabem que têm razão, que o tempo de serviço é seu, sabem que estão a ser roubados e sabem daquilo que têm direito”, frisou.
Mário Nogueira sublinhou que os professores “estão determinados em lutar agora” e no próximo ano letivo caso seja necessário, considerando que o Ministério liderado por João Costa está “a levar a escola e a profissão de docente a definharem".
Manuel Micaelo é professor nas Caldas da Rainha e garantiu à Lusa que a luta vai continuar até que todo o tempo de serviço seja contabilizado.
“É o tempo todo que é para ser contado, não abdicamos de um dia, mesmo no caso dos professores à beira da aposentação esse tempo é deles e faz-lhes falta. Enquanto houver um dia que não tenha sido contado, a luta continua”, disse o docente, frisando que “há que ter respeito pelos professores e há que negociar para se conseguir que a escola pública seja de qualidade”.
Para Manuel Micaelo, os objetivos dos professores são “respeito, aposentação e tempo de serviço roubado”.
Também Sandra Duarte, professora em Loures, disse à Lusa que é necessário continuar a luta”, uma vez que “as condições de trabalho não são as melhores”.
“Vim a todas as manifestações, sou professora há 25 anos e vinculada há 17 anos. Há muita desmotivação nas escolas, não somos bem tratados e o nosso trabalho não é reconhecido” precisou.
A professora de ciências disse que o tempo de serviço “há muito tempo que devia ser reposto” e, no seu caso, já estaria num escalão muito acima daquele em que se encontra atualmente.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, esteve presente na manifestação e afirmou à Lusa que a luta dos professores tem de continuar porque é “em defesa da escola pública”.
“No ano passado, houve 26 mil alunos que acabaram o ano sem professor e se nada for feito, no próximo ano, há 210 mil alunos que poderão não ter professor a uma disciplina. Estes professores estão aqui hoje a apontar soluções e o Governo não dá soluções, não lhes dá carreiras. E o que está a dizer aos professores contratados, que tem uma média etária de 47 anos, é que se desloquem para o outro lado do país a receber ordenados de 1.000 euros sem receber mais por isso”, disse Mariana Mortágua, considerando ser “um insulto” aos docentes.
Sobre a contagem de tempo de serviço, Mariana Mortágua sublinhou que o Governo não quer dar uma solução.
“Não devemos desistir de respeitar os seis anos, seis meses e 23 dias e todo o tempo de carreira destes professores, o Governo deve-lhes isto”, frisou.
Também presente no protesto, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou “justíssima a luta dos professores” e valorizou “a capacidade de resistência e de unidade” dos docentes.
“Os professores são fundamentais para o país, merecem dignificação, respeito, direitos e merecem a consagração do mote da manifestação de hoje, que é os seis anos, seis meses e 23 dias de trabalho, que não estão a ser reconhecidos por um Governo, que é tão rápido a dar respostas à banca e depois aos milhares de professores parece que não quer dar resposta”, salientou.
Paulo Raimundo disse ainda que o ministro tem nas “suas mãos a responsabilidade de como acabar este ano letivo e como começar o próximo ano letivo”, dependendo do Governo a resolução dos problemas.
A plataforma de nove organizações de professores promete novo protesto para sábado, no Peso da Régua, onde se celebra o 10 de Junho.
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