No início da década de 1980, o país foi aterrorizado com mais de vinte assaltos a bancos, casas de câmbio e hotéis. Como responsável surgia o nome de Fernando Tomé Bárbara, conhecido como "O Doutor" e que formou o grupo FP-27 e Faustino Cavaco, um carpinteiro a quem deram a alcunha de 'O Americano' porque tinha boa pontaria e precisava de dinheiro para cuidar da mulher e da filha pequena. Faustino haveria de ser capturado e condenado a 18 anos de prisão.

Afinal como tudo aconteceu?

Há 30 anos, seis condenados escaparam da cadeia sendo os “Cavacos” os mais mediáticos e Faustino o mais temido, ou assim foi contada a história no livro "Vida e Mortes de Faustino Cavaco", escrito na primeira pessoa por Faustino Cavaco, com a colaboração do jornalista Rogério Rodrigues, e publicado em 1988.

Nesta história, segundo a sinópse da série, são recordados os crimes e a "paranoia coletiva" que tomou conta de Portugal, quando por volta das quatro e meia da tarde de 28 de julho de 1986, Germano Ramiro Raposinho, de 32 anos, a cumprir uma pena de 25 por homicídio no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz, em Grândola, se dirigiu ao edifício da portaria para entregar toalhas lavadas para a casa-de-banho.

Apesar da reconhecida perigosidade, Raposinho, um algarvio filho de negociantes de peixe, trabalhava na lavandaria e, como tal, beneficiava de alguma liberdade de movimentos no interior da prisão. Recebido pelo guarda António José Paulino, atingiu-o de imediato com dois tiros de uma pistola escondida entre as toalhas. Outros cinco reclusos que aguardavam no pátio juntaram-se a Raposinho. No interior do edifício, destruíram o rádio para impedir comunicações com o exterior e arrombaram o armeiro de onde tiraram quatro G3 e cinco pistolas. Três guardas que tentaram travar a fuga foram abatidos a sangue-frio e outro ficou ferido. Outros três foram feitos reféns e usados como escudo pelos presidiários para chegarem ao exterior.

Depois disto, entraram numa carrinha celular Ford Transit e, já na estrada, dispararam as metralhadoras na direção de uma bomba de gasolina nas imediações da prisão. Poucos quilómetros à frente, no cruzamento de Grândola e do Carvalhal, mandaram parar um Ford Fiesta de matrícula espanhola (BI-4624-YO) e expulsaram os ocupantes. Quatro dos fugitivos entraram para o carro, tendo os outros dois seguido viagem na Ford Transit.

Encontraram depois outro carro um Ford Escort branco de um casal que ia de férias para o Algarve. Os fugitivos abandonaram o carro celular com os reféns lá dentro, dividiram-se em dois grupos de três e seguiram para Sul nas viaturas roubadas. A partir daí a polícia perdeu-lhes o rasto.

Segundo a história escrita por Rogério Rodrigues, do grupo de seis fugitivos faziam parte dois ex-pára-quedistas, Augusto José Ramalho, o “Tony”, e José Fernandes Gaspar, o “Zé Guerreiro”, o primeiro condenado a cinco anos por roubo e o segundo a vinte anos por assalto à mão armada. Carlos Alberto Ferreira Pereira, natural de Alenquer e conhecido como “Carlos da Malveira”, cumpria uma pena de dezassete anos também por assalto à mão armada. Os outros três eram algarvios: Germano Raposinho, que cumpria a pena mais pesada pelo homicídio de um funcionário de uma bomba de gasolina durante um assalto, era de Quarteira, Vítor Clemente Cavaco, de 32 anos, o “Vítor Ameixa”, condenado a 17 anos por vários roubos, era natural de Loulé, José Faustino Cavaco, o 'Americano', condenado a 19 anos pelo homicídio de um agente da PSP, Manuel Laginha, que teria sido seu cúmplice em vários assaltos, era de Salir, concelho de Loulé.

A 11 de agosto, quatro dos seis fugitivos já tinham sido apanhados. Dois em Lisboa, outros dois após um cerco em Quarteira. Um dos fugitivos, Augusto Ramalho, morreu durante o cerco: ter-se-á, alegadamente, suicidado. Porém, para os irmãos Cavaco (apenas em nome algarvio de família) o jogo das escondidas ainda estava a começar.

A fuga ao estilo Hollywood só chegaria ao fim quatro meses após a fuga. A 24 de novembro, quando irmãos foram localizados por um agente da PJ perto de Loulé. Tinham tomado de assalto a casa de um jardineiro da câmara, que descreveu depois o cenário. Durante 45 dias, os irmãos viveram ali, coagindo o proprietário, que saía todos os dias para o trabalho, enquanto a mulher e a filha ficavam na moradia. Entregaram-se sem resistência.

Esta história é particularmente relevante por ser considerada uma das maiores "caças ao homem" alguma vez vistas em Portugal, A série chega no ano da recente fuga recente de prisioneiros de Vale dos Judeus, em Lisboa, e altura em que se vive outra "caça a homem", contudo menos sangrenta.

Considerando o "anti-herói Faustino Cavaco" foi o último a ser capturado e Rogério Rodrigues “compilou” os textos que Faustino Cavaco escreveu na cadeia num livro que começa com a infância de Faustino, em França nos anos 60, durante o salazarismo.

Nesta série realizador Ivo M. Ferreira recorda numa nota de intenções enviada às redações que a história de Cavaco "insere-se no retrato de um Portugal onde uma revolução e um PREC passaram quase ao lado da serra algarvia, da entrada na CEE e nas imensas oportunidades que levaram Portugal a revestir-se de marquises e tetos falsos".

O argumento é escrito pelo realizador ao lado de Bruno Vieira Amaral, que publicou já uma extensa investigação sobre este criminoso no jornal Observador e Hélder Beja.

A série retrata não só os planos e os assaltos, mas também a investigação criminal e os dias no cárcere, tudo isto a pouco tempo da entrada de Portugal na CEE.

Os episódios vão sair todas as segundas-feiras na RTP1 e RTP Play a partir de hoje e o Trailer pode ser visto aqui. Protagonizados por João Estima, Ivo Canelas, Adriano Luz e Jani Zhao, aos quais se juntam Adriano Carvalho, Carloto Cotta, Gonçalo Waddington, Isac Graça, João Pedro Mamede, Pedro Carraca, Vera Moura e com as participações especiais de Ana Bustorff, José Neto, Rui Morisson e Zeca Medeiros.