Doze meses depois, a campanha de vacinação dentro do espaço da União Europeia (UE) terá salvado a vida de milhares de pessoas, permitiu ter um verão sem confinamentos nem restrições apertadas e deu um novo vigor às economias.
Mas, nestes 365 dias, também houve vários contratempos e desafios, alguns dos quais se mantêm: o medo dos efeitos secundários, os problemas de falta de produção e de distribuição, a descoberta de novas estirpes mais contagiosas, a renovação das restrições, as divisões entre pessoas pró-vacinas e anti-vacinas e a necessidade de doses de reforço face ao surgimento de novas variantes do coronavírus que provoca a doença covid-19.
Nos últimos meses, a campanha de vacinação anti-covid 19 na Europa teve de enfrentar outros dois “pontos quentes” de discussão: a obrigatoriedade e a imunização das faixas etárias mais novas.
Na reta final de 2021, e face aos sobressaltos do surgimento de novas variantes do coronavírus (a mais recente designada como Ómicron), ao regresso de novos períodos de confinamento e de restrições mais apertadas e à resistência de certas populações à vacinação, a obrigatoriedade da vacina tornou-se uma questão e a ONU defendeu, em 19 de novembro, que essa imposição só podia ser adotada perante "motivos legítimos de saúde" e sob certos requisitos.
No início de dezembro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, admitia a necessidade de um debate sobre a vacinação obrigatória dentro da UE.
Vários meses antes, em março, a mesma Comissão Europeia admitia que os cidadãos dos 27 Estados-membros do bloco estariam todos vacinados até ao final do verão.
A Áustria antecipou-se e tornou-se o primeiro país na Europa a anunciar (em novembro) que ia decretar a obrigatoriedade da vacina para a covid-19 a partir de fevereiro de 2022, apesar dos protestos de milhares de pessoas.
Na Grécia, a vacina já é obrigatória para pessoas com mais de 60 anos, enquanto na Alemanha o novo Governo liderado pelo social-democrata Olaf Scholz conseguiu aprovar, a 10 de dezembro, uma lei que obriga os profissionais de saúde a vacinarem-se contra a covid-19, à semelhança do que acontece em outros países do espaço comunitário como França ou Itália.
Este poderá ter sido o primeiro passo antes do alargamento da vacinação obrigatória à restante população alemã, espectável para o início de 2022.
O Ministério da Saúde do Luxemburgo também já admitiu que está a estudar a possibilidade de obrigar a vacinar toda a população.
A obrigatoriedade da vacinação, ou a sua possibilidade, já levou milhares de pessoas a manifestarem-se nas ruas em protestos às vezes violentos, como em Itália, onde multidões criticaram também a entrada em vigor da obrigação de apresentar o certificado digital de vacinação para aceder aos locais de trabalho.
Em vários países europeus, incluindo em Portugal, o certificado digital covid-19 é utilizado para entrar em determinados locais, como restaurantes, salas de espetáculos ou locais de diversão noturna.
Aprovada em 21 de dezembro pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pela Comissão Europeia, a vacina desenvolvida pela Pfizer/BioNTech – a primeira a ter “luz verde” na Europa - começou a ser distribuída ao mesmo tempo pelos Estados-membros da UE a partir do dia 27 de dezembro de 2020, embora nem todos tenham começado a administrá-la no mesmo dia.
O novo ano foi então olhado com muito otimismo, à medida que as campanhas de vacinação avançavam, mas, poucos dias depois de 2021 ter começado, vários países europeus decidiram prolongar os confinamentos: a Europa atingia na altura os 30 milhões de infetados e a distribuição de vacinas começou a sofrer problemas e a atrasar-se.
A entrada no mês de fevereiro deu como garantida a existência de uma terceira vaga de covid-19, com a Espanha e a Itália a disputarem os números mais alarmantes.
No mês seguinte, surgem preocupações com os efeitos secundários das vacinas.
A Áustria anunciou a suspensão da utilização da vacina da AstraZeneca quando foi conhecida a morte de uma enfermeira, com sérios problemas de coagulação, após ter recebido o fármaco e, em poucos dias, a decisão foi imitada por dezenas de países.
Por outro lado, as viagens de e para os países onde novas variantes eram detetadas passaram a ser proibidas e os incentivos à vacinação foram reforçados.
A discussão da altura passou a ser a adoção de certificados de vacinação com o intuito de facilitar as viagens de pessoas imunizadas contra a covid-19.
Os maiores defensores deste "passaporte de vacinação" foram os países onde o turismo tem maior peso, como Grécia, Espanha e Portugal, mas foram os países nórdicos, como a Islândia, a Suécia e a Dinamarca, que primeiro anunciaram a criação destes documentos também para ter acesso a eventos desportivos ou culturais.
Já a França e a Alemanha mostraram-se muito reticentes, porque grande parte das suas populações não estava vacinada.
O certificado digital da UE, comprovativo da vacinação ou recuperação da infeção pelo vírus SARS-CoV-2, entrou em vigor na União no início de julho.
Os movimentos anti-vacinas já constituíam uma preocupação para as autoridades sanitárias, mas foi nesta altura que as manifestações - em protesto contra os certificados de vacinação, vistos como forma de discriminar pessoas - se tornaram violentas.
Antes do verão, o dossiê das vacinas já tinha enfrentado outro problema: a necessidade de aumentar a produção para alcançar a vacinação global.
Esta situação levou a Comissão Europeia a afirmar em maio que estava disponível para “avaliar” a suspensão de patentes das vacinas contra a Covid-19, uma proposta dos Estados Unidos que não foi bem-sucedida.
Em novembro passado, a EMA aprovou a extensão do uso da vacina pediátrica da Pfizer/BioNTech (Comirnaty) para crianças com idades entre os cinco e os 11 anos, considerando essa opção segura e eficaz.
Outro assunto que desencadeou um intenso esgrimir de argumentos entre os mais diversos setores da sociedade europeia.
Vários países da UE, como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Hungria, arrancaram já em meados de dezembro com a campanha de vacinação das crianças desta faixa etária.
Outros, como foi o caso da França, começaram a vacinar apenas as crianças que apresentavam comorbidades, mas depois decidiram generalizar o processo de vacinação voluntária a todas.
A poucos dias do final de um “ano de vacinas”, a doença covid-19 soma mais de 5,36 milhões de mortes em todo o mundo e cerca de 275 milhões de infetados.
No passado dia 20 de dezembro, a EMA aprovou a comercialização de emergência da vacina contra a covid-19 da Novavax, para utilização em adultos.
Esta é a quinta vacina com autorização de emergência na UE, juntando-se às da Pfizer/BioNTech, da Moderna, da Janssen e da AstraZeneca, que fazem parte do plano de vacinação português que também arrancou a 27 de dezembro de 2020.
Dados comunitários divulgados este mês apontam que mais de 82% da população adulta do bloco recebeu pelo menos uma dose da vacina anti-covid-19 e mais de 13% já recebeu uma dose de reforço.
Comentários