Portugal assume a liderança num projeto pioneiro que quer transformar o acesso aos cuidados de saúde na União Europeia. O i2X – Implementação “Inteligente” do Formato Europeu de Intercâmbio de Registos Eletrónicos de Saúde (EEHRxF) visa conectar sistemas de informação médica de 12 países europeus, garantindo a partilha eficiente de dados clínicos além-fronteiras.

A tecnológica portuguesa UpHill, que desenvolve software e conteúdos médicos, coordena este consórcio europeu que reúne 38 parceiros. Com um financiamento de 8 milhões de euros pela Comissão Europeia, o projeto representa um avanço significativo para a concretização do Espaço Europeu de Dados em Saúde.

O problema? A comunicação transfronteiriça de dados clínicos

O principal desafio que o i2X procura resolver é a fragmentação atual dos sistemas de informação de saúde na Europa. Existe uma dificuldade em aceder a históricos médicos de pacientes quando estes viajam ou residem em diferentes países da União Europeia.

O projeto estabelece um formato comum — conhecido como X-Format — que permite aos diversos sistemas armazenar, trocar e interpretar dados clínicos numa linguagem unificada. Esta padronização irá eliminar barreiras técnicas que atualmente dificultam o acesso a informações críticas para o tratamento médico.

“O objetivo global do projeto está estreitamente alinhado com a visão da UpHill para um sistema de saúde que garanta a continuidade dos cuidados e a centralidade do doente”, explica em comunicado Eduardo Freire Rodrigues, CEO da empresa portuguesa.

O responsável acrescenta que “o extenso ecossistema i2X apoiará a continuidade de cuidados em toda a UE, permitindo a criação de centros de referência especializados, otimizando os tempos de espera e minimizando a duplicação de serviços”.

35 projetos-piloto em áreas prioritárias

Durante os próximos quatro anos, o i2X implementará 35 projetos-piloto distribuídos pelos 12 países participantes: Países Baixos, Bélgica, Chipre, Chéquia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha.

Estes projetos focam-se em cinco áreas prioritárias:

  • Prescrição eletrónica;
  • Dados de análises e exames;
  • Sumários do doente;
  • Imagens médicas;
  • Relatórios de alta.

Alguns incorporarão tecnologias baseadas em inteligência artificial para otimizar a interoperabilidade dos sistemas.

Em Portugal, as implementações acontecerão na Unidade Local de Saúde de Coimbra e no Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM).

O projeto prevê a participação de pelo menos 1.200 profissionais de saúde e beneficiará diretamente mais de 3 milhões de cidadãos europeus. Entre os objetivos quantificáveis, destaca-se o aumento de 75% no acesso dos pacientes aos seus dados de saúde e a melhoria em até 80% na disponibilidade de informações estruturadas de alta qualidade.

A interoperabilidade dos sistemas trará várias vantagens práticas: redução da duplicação de exames médicos, diminuição dos riscos associados à falta de informação clínica e fortalecimento das redes de continuidade de cuidados na UE.

“O projeto i2x utilizará a inteligência artificial e outras tecnologias avançadas para implementar a interoperabilidade nos cuidados de saúde na Europa, sem comprometer nunca o tempo dos profissionais de saúde e garantindo valor para os pacientes”, afirma Henrique Martins, coordenador do i2X.

Alinhamento com estratégias digitais europeias

Esta iniciativa enquadra-se nas metas estabelecidas pelo Programa Europa Digital, pela estratégia do Mercado Único Digital e pelos objetivos da Década Digital 2030. O formato X-Format constitui um elemento fundamental do recentemente aprovado regulamento do Espaço Europeu de Dados de Saúde.

O i2X permitirá tanto a utilização primária dos dados — para suporte à prestação de cuidados — como a utilização secundária para formulação de políticas, investigação e inovação em saúde.

Entre os 38 parceiros que compõem o consórcio encontram-se organizações como a Dedalus, o Hospital Charité de Berlim e o Centro Hospitalar Universitário de Bordéus.

O que é a UpHill? 

A empresa portuguesa que lidera este projeto desenvolve software e conteúdos médicos para orquestração e automação de jornadas de cuidados em instituições de saúde. Os seus produtos facilitam a adoção de boas práticas médicas e otimizam a alocação de recursos nas unidades de saúde.

Fundada em 2015 por três médicos, a UpHill possui presença consolidada no setor hospitalar ibérico e mantém projetos com multinacionais farmacêuticas no mercado europeu.

A empresa conta já com três rondas de investimento que totalizaram 11,1 milhões de euros, além de um projeto de I&D aprovado no valor de um milhão de euros.