Três jovens protagonizam a figura principal da peça, que é gay, e que na impossibilidade de encontrar o amor “também por medo” acaba por ter em Lisboa a sua “única compensação de vida”, disse à agência Lusa Fernando Heitor.
Andar pelas ruas, conhecer a noite. É “a única imagem que ele tem na vida” assim como a cidade onde nasceu, acrescentou o autor e encenador, sublinhando que no início da peça há algo de autobiográfico.
A ação deste “diário de um alfacinha” começa no início da década de 1950 e prolonga-se até "2030 e tal" – portanto, “acaba no futuro”. Em 1950 o protagonista “ainda era criança”, observou Fernando Heitor.
Uma viagem pela cidade e pelas mudanças sofridas por esta ao longo dos tempos são também desfiadas na peça onde há ainda lugar para falar sobre a proibição de se ser homossexual antes do 25 de Abril de 1974, e que perdurou por mais oito anos.
A homossexualidade só foi descriminalizada em 1982, oito anos depois da Revolução dos Cravos, frisou Fernando Heitor, sublinhando só ter tido conhecimento deste facto agora quando escreveu o texto da peça.
Para ajudar à narrativa, o autor e encenador socorre-se de uma série de poemas sobre Lisboa de Mário Cesariny, David Mourão-Ferreira, Alexandre O´Neill, Fernando Pessoa, Luiza Neto Jorge, António Nobre, Al Berto, que são musicados pelo João Paulo Soares e interpretados em forma de canção.
Bernardo Souto, Flávio Gil e JP Costa protagonizam, em simultâneo, a figura central da peça que tem uma característica particular: não envelhece.
O facto de "nenhuma pessoa ser uma só, e perante uma situação" poder "sentir alegria, tristeza, o que quer que seja”, levou Fernando Heitor a optar pela interpretação da personagem em simultâneo por três atores.
“E a personagem fica sempre jovem e não envelhece, porque é assim que ela se sente”, concluiu o autor e encenador.
“Salão Lisboa” é uma espécie de salão onde um “homem só vê desfiar toda a sua vida, como se estivesse a assistir a um espectáculo onde fosse ator e espectador”.
A obra marca o regresso do teatro ao Cinema S. Jorge, onde o ator e encenador teve em cena o trabalho anterior “Mário – A história de um bailarino no Estado Novo”.
"Salão Lisboa" tem coreografia de Cláudia Nóvoa.
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