México, maio de 2017. Francisco Javier Zapata, político do partido Encuentro Social que almeja a posição de governador do estado de Nayarit, em plena campanha eleitoral, vira sensação da Internet e torna-se um dos rostos mais conhecidos do país. A razão? O seu painel de rua da sua campanha.
No entanto, ao contrário do que podia ser expectável neste tipo de situações, o motivo de todo o alarido não era o seu farto bigode, mas sim a hashtag utilizada como slogan. A dita, não era polémica, provocativa ou irreverente. Era simplesmente... #campañahashtag. Sim, o slogan da campanha para as redes sociais era "campanha hashtag".
Se foi algo intencional, se se tratou de um falhanço ou de algo estrategicamente propositado? A versão oficial, de acordo com o Vanguardia, é de que se tratou de um erro de impressão. Pelo menos, assim justificou o coordenador do departamento de comunicação do partido Encuentro Social naquele estado mexicano, Benjamín Valdivia, reiterando que hashtag correcta seria "#RevolucionemosNayarit" (Revolucionaremos Nayarit). Ao mesmo tempo, assegura que esta situação "não foi planeada".
No jogo político moderno, encontrar a hashtag ideal para um candidato faz parte de um enorme role de estratégias dos diretores de campanhas, que pretendem garantir uma vantagem logo durante o percurso inicial da corrida eleitoral. Nos tempos recentes, disso é exemplo a hashtag "#MakeAmericaGreatAgain" do agora presidente norte-americano, Donald Trump.
Não é de estranhar, portanto, que se tenham desdobrado pela Internet, nomeadamente nas redes sociais, os chamados "memes" (imagens normalmente toldadas a humor e sátira). O próprio Valdivia tomou conhecimento do assunto ao receber uma dessas fotografias.
Assim, não pode ser considerado surpreendente que alguns utilizadores e comentadores políticos colocassem questão nos moldes em que um utilizador do Twitter, que dá pelo nome de ERROR, colocou: será que o #hashtagcampaña é resultado "do desleixo da ignorância" ou será a "ingenuidade de um profissional"? A resposta a essa questão, "nunca saberemos".
Porém, não deixou dar mote a muito sururu, como podemos ver pelos exemplos seguintes.
Ainda assim, uma das partilhas que mais deu que falar foi a da Netflix (conta mexicana), plataforma de streaming de vídeo, que fez o trocadilho com a sua popular série original, 'House of Cards', cuja quinta temporada vai estrear em Portugal, às 00h00, do próximo dia 31, no TV Séries.
Ora, segundo a plataforma, Frank e Claire Underwood (personagens interpretadas respectivamente por Kevin Spacey e Robin Wright), "Unidos são mais fortes": #HashtagHouseOfCards.
Contudo, o The Guardian revela que este incidente proporcionou "um momento raro para amenizar" o tom que, por norma, vinca esta época de eleições estaduais no México, marcadas para 4 de junho.
Explica o jornal britânico que grande parte da campanha política é feita na rádio e TV, ainda que agora esteja a ser feita a migração para a Internet, onde os candidatos contratam "bots" para espalhar mensagens com tendência para a banalidade e o cliché, com sucessivos apelos à união e ao progresso.
Fernando Dworark, analista político, falou à publicação e explicou que todo este espectro assim funciona porque "as regras permitem que exista mediocridade colectiva". Adianta ainda que a falta de originalidade durante o processo eleitoral acontece porque os partidos preferem jogar pelo seguro e garantir o voto — e uns quantos milhões de pesos em angariações.
Sobre o assunto, o principal visado nesta questão considera que o cidadão comum tem mais jeito para a política do que os profissionais que facturam milhões para planear estas campanhas.
"Estou convencido de que as pessoas normais têm mais experiência em criar 'hashtags' para campanhas do que muitos consultores e partidos que cobram milhões", reiterou Zapata num comunicado do Encuentro Social, um partido formado oficialmente em 2014, por cristãos evangélicos.
Esta ideia é partilhada por Dworark. Ao The Guardian confessou que, por experiência própria, "é difícil não concordar com ele [Zapata]. Há tanto improviso [no marketing político online] que existem mais tiros ao lado, do que aqueles que resultam".
Agora, não se pense que o Francisco Javier Zapata tenha virado a cara a todo este marketing. Isto, porque não o fez. Bem pelo contrário. Diz que a hashtag campagña o aproximou do eleitorado e que não a vai alterar. Prova disso é o seu perfil oficial no Facebook. Na fotografia de "capa", lá está a agora bem amada #hashtagcampagña, assim como uma criação mais recente da campanha, o http://hashtagcampaña.com, para que os eleitores possam sugerir como deve terminar a mesma.
E, já agora, se quer seguir o fenómeno nas redes sociais, poderá fazê-lo através da já citada 'hashtag' e aquelas duas que eram para ser as oficiais: #RevolucionemosNayarit #PorMisBigotes. Podemos assegurar muitas fotografias de bigodes postiços.
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