Chuva, chuva e mais chuva. Foi assim durante todo o inverno e continua no início da primavera. Há notícias que dão conta que com tudo o que choveu desde o início do ano, 53 das 80 barragens do país ficaram acima dos 80% da capacidade, sendo que 12 delas estão já no limite e algumas já começaram mesmo a descarregar.

Boas notícias tendo em conta o que aconteceu nos últimos anos, em que o país viveu situações de seca extrema. A pergunta que se coloca agora é se as chuvas que aconteceram até ao momento são suficientes para um verão mais tranquilo no que à seca diz respeito.

"No final de março, nenhuma região do território se encontrava em seca, situação que se deverá manter em abril de acordo com as previsões"

"Em termos de seca meteorológica, existe uma dependência das classes de seca dos índices que o IPMA utiliza, SPI e PDSI, e a quantidade de precipitação registada no mês que estamos analisar, mas também dos valores obtidos nos meses anteriores. No final de março, nenhuma região do território se encontrava em seca, situação que se deverá manter em abril de acordo com as previsões", começa por dizer o IPMA ao SAPO24, deixando, no entanto, um alerta para os próximos meses.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera alerta que "se a partir de maio ocorrer uma conjugação de valores de precipitação muito inferiores à média e valores de temperatura, em especial a temperatura máxima, muito superiores à média, poderá levar a uma maior evapotranspiração e, consequentemente, a uma secagem rápida do solo, o que levaria ao reaparecimento da seca meteorológica, contudo, ainda nas classes mais baixas do índice, fraca a moderada", dizem ainda que com a esperança deum verão menos problemático.

"Neste sentido, e apenas para a seca meteorológica, poderemos afirmar que nos próximos meses de Verão, junho, julho e agosto, como uma elevada probabilidade, teremos menos regiões do território continental nas classes mais elevadas destes dois índices", acrescentam.

Investigadores e ambientalistas defendem que não se façam novas barragens
Investigadores e ambientalistas defendem que não se façam novas barragens créditos: 24

Chuva é boa para umas coisas e menos boa para outras

Choveu muito neste inverno, mas  atendendo "aos dados de precipitação desde 1931, 40% dos invernos registaram valores superiores ao deste ano. Considerando os últimos 25 anos, este foi o sétimo mais chuvoso".

Mas nem todos os meses do inverno foram assim, por exemplo dezembro passado foi extremamente seco, o mais seco desde 1931, sendo que janeiro foi muito chuvoso, o segundo mais chuvoso desde 2000, ao passo que fevereiro foi um mês normal em termos de precipitação ocorrida.

Quanto ao mês de março, início da primavera meteorológica, a precipitação ocorrida foi mais do dobro da média 1991-2020 (229.4%) e foi o quinto mais chuvoso desde 2000.

"Muitas sementes foram embora com a forte água e é muito complicado colocar as máquinas nos terrenos todos empapados. Era necessário que a chuva parasse agora um pouco para conseguirmos trabalhar"

Resumidamente, em termos de ano hidrológico, período de outubro a março, estamos ligeiramente acima da média.

E estando acima da média a preocupação é muita para alguns, nomeadamente para os agricultores, que se queixam da água em demasia.

"Foram anos de seca, mas agora a quantidade de água já estragou muitas culturas. Muitas sementes foram embora com a forte água e é muito complicado colocar as máquinas nos terrenos todos empapados. Era necessário que a chuva parasse agora um pouco para conseguirmos trabalhar, caso contrário poderá ser um ano perdido para algumas culturas. Neste momento, em algumas regiões, as máquinas já deveriam estar em campo para prepararem as sementeiras do versão", diz a Confederação de Produtores, salientando o que se tem perdido.

Alterações climáticas obrigam a adaptar regadio no Vale do Lis para garantir disponibilidade de água
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"Grande parte das hortícolas têm-se perdido em algumas regiões do país, como bróculos, couves flores, entre outras. A somar a estes problemas há a questão de muitas culturas estarem ainda nos viveiros e não foram ainda plantadas, pois os solos estão saturados de água", dizem.

Esperam-se agora uns próximos meses menos rigorosos em matéria de chuva. "Será determinante que tanto abril como maio sejam menos rigorosos nesse sentido. Como referimos, mais que apanhar as culturas que há muito estão preparadas para tal, temos de começar a preparar as próximas. O tempo corre e as máquinas estão paradas. Infelizmente os anos têm sido assim, do 8 ao 80. Se nos queixamos de seca, logo a seguir queixamo-nos da água, mas infelizmente é mesmo assim. Este é o ano do 80 em água, agora deveria parar um pouco, para que não demos por totalmente perdidas as colheitas que estão por apanhar, caso contrário só podemos apostar nas sementeiras de verão. Abril e maio serão determinantes", referem.