“Tem inúmeras vantagens: é limpa, com uma pegada de carbono mínima e sem resíduos radioativos; é segura, uma vez que se interrompe instantaneamente em caso de perturbações; e é económica, dependendo de recursos naturais baratos, abundantes e não poluentes, mesmo em comparação com as energias renováveis atuais”, refere o IPFN em comunicado.
O IPFN, unidade do Instituto Superior Técnico, lidera a investigação em fusão nuclear em Portugal e fez parte de uma experiência europeia que atingiu em finais do ano passado um valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão sustentada no dispositivo de fusão Joint European Torus (JET), o maior do género no mundo, a funcionar no Reino Unido.
O teste, que durou cinco segundos, visou preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, em construção em França.
Na terça-feira, cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, nos Estados Unidos, anunciaram que, pela primeira vez, foi criada uma reação de fusão que produziu mais energia do que a que foi necessária para a iniciar, o que representou um ganho líquido de energia. A experiência decorreu em 05 de dezembro.
Apesar do “marco histórico” alcançado, está-se ainda a décadas de atingir o uso comercial da fusão nuclear para a produção de eletricidade, uma vez que a energia gerada na experiência realizada nos Estados Unidos é ainda residual, refere o IPFN, ressalvando que “um reator de fusão a ‘laser’ que usa a tecnologia atual”, e não a do laboratório norte-americano, que tem vários anos, “pode fazer subir este valor o suficiente” para se “sonhar com o dia em que se obterá mais energia do que a que foi utilizada” de forma significativa.
A ONU advertiu na terça-feira que, apesar do “avanço extremamente importante” conseguido nos Estados Unidos, não se deve parar os “esforços para diminuir as emissões” de gases com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global, e “avançar com medidas de mitigação e adaptação”.
As experiências científicas de fusão nuclear que têm sido feitas há vários anos pretendem replicar, de forma controlada, o processo que gera a imensa energia das estrelas, como o Sol.
Contudo, “na prática, tem-se revelado extremamente complicado conseguir que este processo se dê de uma forma equilibrada, homogénea e sustentada durante tempo suficiente para que a reação de fusão seja rentável”, assinala o Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear.
O processo de fusão nuclear “consiste em forçar dois núcleos atómicos a unirem-se, dando origem a um novo elemento e produzindo energia que pode ser utilizada”, explica o IPFN, acrescentando que nas estrelas “pares de isótopos de hidrogénio são fundidos, transformando-se em hélio e gerando luz e calor”, uma “combinação que se utiliza nos reatores nucleares de investigação”.
Para se obter a energia de fusão será necessário fornecer alguma energia, usando, de acordo com o IPFN, dois métodos, o do confinamento magnético e o do confinamento inercial – este último foi utilizado pelos cientistas nos Estados Unidos.
Na fusão por confinamento magnético, “os átomos são comprimidos graças a campos magnéticos intensos”, sendo “usadas densidades atómicas e pressões moderadas durante tempos longos, da ordem de vários segundos”.
Já na fusão por confinamento inercial “são usados feixes ‘laser’ de grande energia para obter essa compressão”, sob “pressões e densidades muito elevadas, que reproduzem as condições do interior das estrelas, mas “durante tempos da ordem dos milésimos de milionésimos de segundo”.
No Laboratório Nacional Lawrence Livermore foi usado um sistema de ignição de energia por fusão baseado em ‘laser’, o maior e mais energético do mundo, cujo tamanho é comparável a três campos de futebol.
Na realidade, 192 feixes de ‘laser’ foram “focados nas paredes interiores de um pequeno cilindro oco, do tamanho de um dedal”, no interior do qual estava “suspensa uma minúscula cápsula esférica” que continha o combustível de hidrogénio.
“A reação dos ‘lasers’ com o cilindro gera uma explosão de raios-X de tal intensidade que a cápsula é comprimida, um processo designado ‘irradiação indireta’. Ao diminuir violentamente de volume, os átomos de hidrogénio acabam por se unir”, esclarece o comunicado do IPFN, sublinhando que “durante breves instantes foi atingida uma temperatura superior à do núcleo do Sol”, que permitiu alcançar “as condições de ignição” e obter “mais energia de fusão do que aquela que foi inserida através dos feixes ‘laser'”.
Segundo o IPFN, “para dois milhões de joules de energia ‘laser’ foram obtidos três milhões de joules de energia de fusão, um fator de ganho de uma vez e meia”.
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