Já todos sabemos da possível violação na Queima do Porto e os comentários de profunda empatia, daquela empatia própria de um calhau, que o caso gerou. Ao exprimir a minha aberrante opinião sobre o quão errado é culpar a vítima em qualquer caso, em qualquer circunstância – acho até que é ser cúmplice do crime – fui apelidado de "paneleiro", "filho da puta" e acusado de querer likes. Como é que ser gay ou ser prostituta ainda é insulto em 2019, ainda estou para perceber, mas fica para outra crónica. O "queres é likes" é o insulto mais comum das pessoas cuja capacidade cognitiva se assemelha à de um berbigão, por isso também fica difícil explicar-lhes a ironia de estarem nas redes sociais – onde tudo está à mercê dos likes, incluindo o seu insulto – a comentar tais coisas. Portanto, devem imaginar que até contemplo a hipótese de suicídio com tão grandes ofensas que me são dirigidas.
Agora, e para lá da barbaridade que é culpar vítimas, o que devia realmente ofender gravemente qualquer homem minimamente decente é como tanta gente faz dos homens, genericamente, uns animais selvagens mentais completamente descontrolados que não conseguem ver o mínimo pedaço de uma mulher sem ficar com uma tesão grotesca e terem que se ir esfregar nela que nem um cão com o cio. É que esse é o outro lado do "ela pôs-se a jeito" porque bebeu ou se vestiu de determinada maneira. E isto não é só quando acontecem violações. Em qualquer altura em que alguém defende que as mulheres se devem vestir ou comportar de determinada maneira por causa dos homens, está automaticamente a dizer que os homens são seres desprovidos de capacidades (mínimas!) intelectuais que lhes permitam não começar a esgaçar o pénis assim que vêem um tornozelo feminino e, por isso, coitadinhos, temos de evitar acicatar os seus instintos de babuíno cobridor.
Vão-me desculpar, e se calhar lá estou eu a ser um paneleiro filho da puta marxista cultural que só quer é likes, mas os homens não são assim. Não está no nosso ADN que temos de andar a jorrar esperma para todo o lado, não está no nosso ADN que nada que nos impeça de nos controlarmos se quisermos, não está no nosso ADN um instinto tão grande de predador sexual e de macho reprodutor que não possa ser facilmente controlado com padrões mínimos de civismo e educação.
Chamem-me os nomes todos que quiserem mas, por favor, chega de tomar todos os homens como potenciais violadores.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- O resto da tua vida: série do Carlos Coutinho Vilhena com o João André. YouTube.
- Como Isto Anda: série documental do Jel na SIC Radical.
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