No mês do orgulho gay, milhares de pessoas se juntam em Lisboa para apoiar a comunidade LGBTQI+, numa marcha que segue desde a praça do Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço.

A 26ª Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa "pela defesa dos direitos humanos", foi organizada sob o tema "Nem mais um passo atrás!".

Os manifestantes marcharam ao som de tambores, enquanto se ouviam palavras de ordem, nomeadamente: “Aqui se vê a força LGBT”.
Vários membros da comunidade empunhavam cartazes, onde se podiam ler frases como: “Isto é amor em forma de protesto” ou “Ser quem sou não deveria ser um ato de coragem”.

“Quando se celebram 26 anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa e 50 das primeiras eleições livres em Portugal, não podemos ignorar que liberdades e democracias estão a ser atacadas […]. Uma parte significativa das pessoas (sobre)vive do seu trabalho, mas não tem o justo reconhecimento, nem qualquer garantia de uma vida digna”, lê-se no manifesto da marcha, com o título “Resistir e não só existir!”.

No documento, são criticadas as "iniciativas reacionárias" dos governos devido à “influência crescente da extrema-direita”, bem como o que dizem ser a ofensiva do governo da AD (Aliança Democrática) sobre a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, sublinhando que a educação sexual faz parte da formação mais básica e que a diversidade humana não pode ser negada.

O manifesto também aborda o conflito no Médio Oriente, classificando o que está a acontecer em Gaza como um genocídio “servido em direto” e como o “holocausto dos nossos dias”.

Por outro lado, fala de uma guerra em curso contra refugiados, migrantes e deslocados, da manutenção do racismo e do Mediterrâneo, onde referem estar sepultados os valores do humanismo europeu.

“Marchamos hoje por todos os direitos humanos, fazendo frente com todas as pessoas e comunidades visadas pela extrema-direita e pelas suas políticas. Marchamos hoje pela liberdade que estamos dispostes [palavra utilizada no documento para respeitar o género neutro] a defender na Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa e em todos os dias neste mundo”, acrescentou.

Hélder Bértolo, da comissão organizadora, explicou em entrevista à SIC Notícias que o grande objetivo é "lutar pela simples liberdade de existir". O professor universitário lembra os vários movimentos de luta contra a discriminação pela orientação sexual criados ao longo da história que servem, hoje, para que Portugal não ande atrás no tempo: "Sempre existimos e vamos continuar a existir", reforça.

Recorda ainda os países onde ser homossexual é ilegal e sujeito a pena de prisão. Atualmente, a homossexualidade é criminalizada em 62 países, com penas que variam desde multas e prisão até a pena de morte em alguns casos. Além disso, o Egito e o Iraque criminalizam-na de facto, sem previsão legal expressa.

Na Europa, entre 20% a 40% da população sem-abrigo é composta por pessoas LGBTQIA+, apesar de representarem apenas 5% a 10% da população geral, de acordo com o Expresso. Em Portugal, cerca de 70% das pessoas em situação de sem-abrigo sinalizadas atribuem a sua situação à orientação sexual ou identidade de género, muitas vezes devido a expulsão de casa ou discriminação no emprego, segundo os resultados do relatório do projeto europeu QueerNest.

Há países onde ser abertamente LGBTQIA+ é social e politicamente arriscado, devido à homofobia institucionalizada, violência, discriminação ou exclusão legal, como a Polónia, Rússia, Hungria e Lituânia.

"Temos aqui pessoas de todas as idades, classes sociais, cores de pele, famílias, é uma marcha por direitos humanos", sublinha o coordenador.

Contra-manifestação "pelo orgulho heterossexual"

Ao mesmo tempo que o desfile acontece, o Grupo 1143 mobilizou-se numa contra-manifestação que denominou "1.ª Marcha do Orgulho Heterossexual", criticada por Hélder Bártolo: "Quando alguém me disser que há pessoas hétero a ser despedidas do emprego, ou que são expulsas de casa e estão em situação de sem-abrigo, ou que é apedrejada, presa ou sujeita a eletrochoques, eu serei a primeira pessoa a estar à frente de uma marcha hétero. Neste momento isso não acontece", disse.

Foi publicada uma carta aberta, assinada por vários grupos e organizações, a denunciar a iniciativa e a penalizar o Grupo 1143, uma "organização neonazi, homofóbica, transfóbica, misógina e racista", escrevem.

"Este grupo neonazi conta com um vasto historial de discursos e ações de incitamento ao ódio, de ameaças físicas e psicológicas à população Queer, a pessoas migrantes e racializadas, de perseguição e ataques a Marchas, assim como a outras iniciativas, como apresentações de livros de temática Queer, igualdade de género, inclusão e diversidade", acrescentam, considerando a contra-manifestação "uma clara provocação" e "um ataque à liberdade".

*Com Lusa