Quando a troika entrou em Portugal, a ajuda externa compreendia uma linha de 12 mil milhões de euros de capitalização para reforçar os rácios de capital dos bancos, na prática as almofadas financeiras contra a crise. Mas, ao contrário do que sucedeu em Espanha, por exemplo, aqui, a banca, e o Banco de Portugal e o Governo, preferiram disfarçar, pôr debaixo do tapete, gerir os problemas em vez de resolve-los de uma vez. Pequenas injeções de capital, no limite do estritamento necessário. Deu asneira.
Cada caso foi, e é, um caso, com as suas próprias explicações, e algumas não são bonitas. Mas há, comum a todas, uma política de concessão de crédito pouco exigente, sem avaliação de risco, muitas vezes aos amigos, que resultou em perdas e em intervenções, com recurso ao dinheiro dos contribuintes. Mas como não há economia sem bancos, em emergência, não houve alternativa. Os contribuintes pagaram naqueles momentos para não pagarem, ainda mais, mais tarde.
Ainda assim, já passou o tempo suficiente para que as autoridades, desde logo a de supervisão, mas também as políticas, tenham aprendido. Até porque as regras europeias estão a mudar, e vão mudar ainda mais, ao ponto de obrigarem a intervenções de ‘bailin’ e não de ‘bailout’, isto é, com dinheiro dos acionitas, obrigacionistas e depositantes, em vez do dinheiro dos contribuintes. Não só é justo como é moralmente necessário, impõe mais exigência de quem compra ações, mas também aos que aplicam as suas poupanças, sobre a gestão dos bancos. Mas, enquanto não muda...
O Novo Banco corre a sua pista própria, cheia de pedregulhos, mas agora com tempo para reescrever a sua história, leia-se a ‘descoberta’ de um investidor que compre o banco. O Banif é um banco de menor dimensão, sobretudo com presença nas regiões autónomas, mas, por ser ‘mais um’, tem as características para se transformar num grande problema, sobretudo para o próprio sistema financeiro como um todo. Como? Pela desconfiança de investidores e depositantes.
Um banco tem, permanentemente, três áreas de risco: balanço, rácios e liquidez. Ironicamente, os rácios e a liquidez do Banif estão, agora, salvaguardados, mas o balanço é frágil, tem muito crédito mal parado de imobiliário e não consegue devolver ao Estado 125 milhões de euros do que recebeu a título de empréstimo. Ora, é esta incapacidade, e as exigências do BCE e da Direção-Geral da Concorrência (DGComp) para que tal seja feito até ao final do ano, que estão a pôr uma pressão brutal sobre o banco, sobre a sua cotação em bolsa, no limite, sobre a sua liquidez. E não conheço nenhum banco que tenha resistido à desconfiança dos depositantes.
O Banif não está em risco de fechar, mas tem de encontrar um investidor que compre os 60% de capital que estão hoje nas mão do Estado. Até ao final desta semana, coisa no mínimo difícil, apesar do trabalho de casa já feito. A alternativa é uma resolução à moda do BES/Novo Banco. O Estado transformará os ditos 125 milhões em capital, ficará na prática com a totalidade do Banif e, depois, vai separar o trigo do joio, o banco bom do banco mau. O banco bom poderá continuar a ser um banco independente, vendido a terceiros ou, no limite, integrado na CGD. O PS gostaria de seguir esta última solução – a história mostra-nos que os socialistas usam a Caixa para isto e muito mais -, mas a Europa não está pelos ajustes. Porque a CGD também tem os seus problemas e não sabe como resolvê-los.
O presidente do Banif, Jorge Tomé, não tem uma tarefa fácil, aliás, não tem desde o primeiro dia em que entrou em funções. Já estará arrependido de ter entrado. Está há dois anos a negociar com a Concorrência europeia o processo de reestruturação que tem de ser aprovado depois do Estado aumentar o capital e emprestar.
Os contribuintes, é bom recordá-lo, já pagaram a fatura do Banif, quando o Estado passou a acionista e essa injeção de 700 milhões de euros foi à despesa pública. Agora, Tomé chegou a um beco com duas saídas: encontra um comprador para os 60% do Estado ou entrega as chaves a Mário Centeno. Em qualquer dos casos, o sistema financeiro como um todo tem de ser protegido.
As escolhas
Marine Le Pen perdeu, mas ganhou. Perdeu a possibilidade de mandar em alguma das regiões de França, mas ganhou muitos votos em relação à primeira volta das eleições regionais, por isso, no meio dos suspiros de alívio que se ouviram ontem em Paris, a voz mais certeira foi a do primeiro-ministro Valls. A derrota da Frente Nacional de Le Pen resultou de uma concertação de adversários, de Hollande e Sarkosy, uma aliança positiva para impedir a extrema-direita. Mas a procissão política ainda vai no adro, e as eleições presidenciais estão ao virar da esquina.
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