Salazar, como outros ditadores, era maquiavelicamente inteligente e sabia que, para se manter no poder, precisava de manter a população pacificada e, sobretudo, entretida. Ou alienada, como também já ouvi dizer. Pouca informação — uma benção para alguns — que se traduzia em pouca opinião e pouca participação cívica e política. A política do pão e circo vem do tempo da Roma Antiga e é vista por alguns historiadores como uma forma de manipulação que garantia a tal alienação, pela satisfação. O entretenimento moderno, portanto.
O problema, revelam outros historiadores, era a falta de pão, ou seja, a falta de condições de vida com que a população do Império Romano se debatia, o que faz com que a ideia de pão e circo esteja incompleta, considerando-se uma visão deturpada do que efectivamente acontecia. Na verdade, no quotidiano contemporâneo recorre-se, por vezes, à expressão "pão e circo" para expressar uma certa falta de interesse da população pelos temas mais sérios e controversos, ou para revelar um certo desencanto em relação aos temas que estão em discussão na esfera pública. Mas também podemos olhar para isto tudo a partir de um outro prisma, através do qual este aparente desinteresse é, pelo contrário, pura desinformação. Se, por regra, discutimos os temas quentes da agenda pública, política e mediática, resta saber como esses temas foram integrar cada uma dessas agendas…
Desde o aparecimento dos primeiros meios de comunicação social — imprensa, rádio e televisão —, que se começou a procurar dar resposta aos eventuais efeitos destes meios na sociedade e estudar o seu papel enquanto formadores de opinião e de transmissão de conhecimento. Conhecemos a sua função social, temos noção dos objectivos e, consequentemente, efeitos, mas continuamos fiéis seguidores da doutrina que proclamam. Porquê? É mais fácil, é humano e agregador, num contexto em que os laços comunitários se foram desagregando, orientando a atenção do público para os temas indicados pela comunicação social como os de maior interesse colectivo. Que reprodução de representações do real por parte dos meios de comunicação social temos nós? O que encontramos quando percorremos o nosso mural no Twitter ou no Facebook?
Ainda que possamos escrutinar e limitar bastante aquilo que estas plataformas nos querem mostrar — tal exige trabalho e conhecimento dos seus modos de funcionamento —, há um facto inegável: deixamo-nos facilmente contaminar por aquilo que parece mais relevante num determinado momento, mesmo que não seja. O Fado não é fado, é a música de Salvador Sobral que se alinha para dar baile na Eurovisão. Fátima é amanhã e há várias semanas que domina a agenda, e o futebol… está sempre presente.
Afinal em que ficamos?
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