O conflito é agravado por surtos de cólera e sarampo, com 273 e 6.000 casos confirmados, respetivamente, e problemas de desnutrição que afetam uma em cada cinco crianças com menos de 5 anos de idade no Tigray, disse o diretor de Intervenções de Emergência da OMS, Altaf Musani, numa conferência de imprensa.

A diretora de Operações da OMS na Etiópia, Ilham Abdelhai Nour, acrescentou que apesar de 5,2 milhões de pessoas em Tigray precisarem de assistência humanitária, a organização não teve acesso à região do conflito durante as últimas seis semanas.

"Antes disso, entre março e agosto, durante a trégua humanitária, pudemos enviar alguma ajuda, embora uma pequena quantidade", disse, observando que nas regiões onde os casos de malária aumentaram 80%, tiveram de suspender os seus programas de assistência.

A OMS também teve de limitar os seus programas de vacinação contra a covid-19 à capital do Tigray, Mekele, disse a diretora, que sublinhou que apenas 10% das crianças podem participar em programas de imunização naquela região.

As duas regiões da Etiópia vizinhas do norte de Tigray, Afar e Ahmara, também apresentaram problemas humanitários, disse Nour, acrescentando que estas áreas têm grandes populações de pessoas deslocadas onde as taxas de desnutrição chegam a atingir 40% em crianças menores de 5 anos.

Em Tigray, o nível de insegurança alimentar atinge 89% da população total, segundo dados do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM).

O conflito no Tigray começou no início de novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A TPLF dominou a coligação governante da Etiópia durante décadas antes de Abiy chegar ao poder, em 2018, e tê-los expulsado.

Após cinco meses de tréguas humanitárias, os combates foram retomados em 24 de agosto.

O Tigray está isolado do resto do país e privado de eletricidade, redes de telecomunicações, serviços bancários e combustível. A entrada de ajuda humanitária por via rodoviária e aérea também tem sido interrompida desde que os combates foram retomados.

O resultado do conflito, que se desenrola em grande parte fora dos olhares mediáticos, é desconhecido. A embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, estimou que em dois anos "morreram até meio milhão de pessoas".

A imprensa não tem acesso ao norte da Etiópia e as comunicações operam de forma desordenada na região, impossibilitando qualquer verificação independente das informações.

 

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