"Vamos trabalhar também no sentido de chamar a atenção para graduar o gradual aumento do nível das águas do mar, a acidificação dos oceanos e a necessidade de fazermos uma gestão sustentável dos oceanos, tendo em conta que Cabo Verde é um país oceânico e há uma proposta de Cabo Verde no sentido de transformarmos a dívida em investimento climático, isto é extremamente importante", afirmou o chefe de Estado cabo-verdiano, em declarações aos jornalistas, na Praia.
José Maria Neves antecipou desta forma a sua presença, em 06 e 07 de novembro, na 27.º Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que se realiza em Sharm el-Sheikh, Egito (06 a 18 de novembro), para debater a luta contra o aquecimento global e a adaptação às alterações climáticas.
A ajuda aos países mais pobres, para se adaptarem a um novo clima, mas também pelas perdas e danos que já sofreram, será tema central da cimeira.
"Se toda a dívida dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, dos países africanos em desenvolvimento, for transformada em investimento climático, por exemplo nas energias renováveis, no hidrogénio verde ou, então, se conseguirmos investir na educação, na saúde, no desenvolvimento sanitário, estaremos a criar as condições para termos melhores condições de vida em África", insistiu José Maria Neves.
De acordo com dados do Ministério das Finanças, o 'stock' da dívida pública de Cabo Verde chegou no final de agosto aos 298.022 milhões de escudos (2.723 milhões de euros), um novo valor máximo absoluto, tendo o Governo defendido publicamente nos últimos meses a possibilidade de conversão parcial em investimentos climáticos por parte dos credores, como Portugal.
O Presidente cabo-verdiano insistiu que "o mundo está confrontado com os impactos das mudanças climáticas", particularmente os SIDS, como é o caso de Cabo Verde, com os quatro anos de seca e os efeitos económicos da pandemia de covid-19, a que se junta agora a escalada inflacionista provocada pela guerra na Ucrânia.
"Agora temos uma subida excessiva de preços, particularmente de alimentos e de energia, a inflação que corrói o poder de compra, particularmente das camadas menos procedentes da sociedade e a vida está extraordinariamente difícil, particularmente nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento", admitiu o Presidente cabo-verdiano.
Mas nas duas semanas da COP27 também se falará de aquecimento global, do Acordo de Paris, de sustentabilidade, de neutralidade carbónica, do IPCC [Painel Intergovernamental Sobre Alterações Climáticas] ou das NDC [Contribuições Nacionalmente Determinadas]. O Acordo de Paris é o tratado internacional adotado em 2015 na COP21 pela quase totalidade dos países para reduzir emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera e impedir que as temperaturas mundiais subam além de dois graus celsius (ºC) acima dos valores da época pré-industrial, e de preferência que não aumentem além de 1,5 ºC. Até agora a temperatura global já subiu 1,1 ºC acima dos valores de referência.
José Maria Neves revelou ainda que em 05 de novembro participa em Marrocos, a convite do Instituto Amadeus, numa conferência internacional sobre as crises em África e a Nova Ordem Mundial, conjuntamente com líderes mundiais, investigadores, empresários, elementos de organizações não-governamentais e personalidades internacionais para "refletir sobre a África do presente e as perspetivas futuras".
"Vou fazer o encerramento desse fórum e vou essencialmente refletir-me sobre a África neste momento, as diferentes crises, os conflitos, temos o terrorismo e os conflitos no corredor do Sahel. Temos o terrorismo na África austral, particularmente no norte de Moçambique, Cabo Delgado, a guerra civil na Etiópia (...), conflitos na região dos Grandes Lagos, agora com o recrudescimento das tensões entre a República Democrática do Congo e o Ruanda, e também temos as ruturas constitucionais. Temos vários países, particularmente aqui na costa ocidental africana, com golpes de Estado", disse ainda.
"A ideia é dizer que temos que rapidamente avançar para criar condições de governabilidade, de boa governação e combater a pobreza, as desigualdades e mobilizar todas as capacidades e todas as competências africanas e colocá-las ao serviço da dignidade das africanas e dos africanos", acrescentou.
PVJ // LFS
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