"Num setor sensível, como é o caso dos transportes, não podemos continuar a regredir, sob pena de pôr em causa a competitividade da economia cabo-verdiana, o crescimento e a inserção de todas as ilhas no processo global de desenvolvimento", afirmou José Maria Neves, questionado pelos jornalistas na Praia, depois de no sábado ter falhado a anunciada visita à ilha Brava devido à avaria do navio que assegura as ligações.
"O chefe de Estado é cabo-verdiano, é um cidadão cabo-verdiano, e isso mostra que temos de tomar medidas rapidamente para evitar a regressão", disse.
O Presidente acrescentou que tem apelado no sentido de se ser inteligente nos processos de privatização e de se cuidar melhor da regulação: "Vejam que é preciso defender os interesses dos cidadãos, os interesses dos passageiros e dos clientes. Pessoas chegam a uma ilha, ficam bloqueadas nessa ilha dois, três, quatro dias sem saber quando é que poderão sair e depois ninguém assume as responsabilidades".
A Presidência da República cabo-verdiana anunciou no sábado o cancelamento da visita de José Maria Neves à Brava, devido à avaria do navio que faz a ligação interilhas, deslocação em que o Presidente pretendia precisamente destacar o "isolamento" daquela ilha.
"Portanto, a situação é grave e deve interpelar as autoridades no sentido de serem tomadas medidas. O Presidente da República tem que dar voz à ilha Brava e tem que dar voz aos empresários e aos cidadãos que se sentem profundamente lesados com esta situação", disse ainda José Maria Neves.
O chefe de Estado, de acordo com uma nota anterior da Presidência, já se encontrava na ilha vizinha do Fogo quando foi "surpreendido com a informação da Cabo Verde Interilhas de que, afinal, não haverá mais a ligação, por avaria no navio que deveria assegurar a viagem".
A Cabo Verde Interilhas, detida em 51% pela Transinsular, do grupo português ETE, assume desde agosto de 2019 a concessão do serviço público de transportes marítimos de passageiros e carga, por 20 anos, mas tem enfrentado várias avarias em navios e críticas por parte de passageiros, apesar de já ter transportado mais de 1,5 milhão de pessoas nos primeiros três anos de operação.
"Os resultados estão à vista, então é preciso analisar os dados que estão sobre a mesa e tomarmos as melhores decisões sobretudo isto", criticou José Maria Neves, que foi também primeiro-ministro de 2001 a 2016, pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, maior partido da oposição atualmente).
"Temos é que defender os interesses dos cidadãos, mas temos também que ver todos os prejuízos que esta situação está a causar à Brava, aos empresários, ao sistema de saúde e a todo o desenvolvimento de uma ilha, como é o caso da Brava, que também impacta no desenvolvimento do Fogo [ilha vizinha] e no desenvolvimento de Cabo Verde", referiu o chefe de Estado.
A Brava é uma das ilhas mais isoladas de Cabo Verde, não dispõe de aeródromo ou de ligações marítimas regulares, o que tem provocado vários constrangimentos na realização de evacuações médicas para a vizinha ilha do Fogo.
PVJ // LFS
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