"Dei instruções ao Ministério da Defesa para retomarmos a nossa plena participação nesta tarefa. Ao mesmo tempo, a Rússia reserva-se o direito de se retirar deste acordo se a Ucrânia violar tais garantias", declarou Putin no início de uma reunião à distância com o Conselho de Segurança da Rússia.

O líder do Kremlin salientou que a Turquia agiu como mediador depois de Moscovo ter suspendido no passado dia 29 de outubro o acordo de exportação de cereais assinado em julho com a mediação de Ancara e da ONU e que, através do Ministério da Defesa turco, a Rússia recebeu "garantias da Ucrânia de que o corredor humanitário não seria utilizado com fins militares".

Essa foi uma das exigências da Rússia para retomar a sua participação no pacto, que expirará a 19 de novembro e cujo prolongamento Moscovo está ainda a estudar, juntamente com uma investigação exaustiva do suposto ataque ucraniano perpetrado a 29 de outubro contra a frota russa do mar Negro em Sebastopol com 'drones' (veículos aéreos não-tripulados) navais que, segundo a Defesa, se deslocaram ao longo do corredor criado para o escoamento dos cereais.

Ancara tinha pedido a Putin para separar as duas questões, porque o mais importante era retomar o acordo para impedir uma grave crise alimentar mundial.

O Presidente russo garantiu que não interferirá no fornecimento de cereais da Ucrânia à Turquia.

"Não interferiremos no futuro, em caso algum, no abastecimento de cereais a partir do território da Ucrânia à República da Turquia (...)", disse Putin.

O chefe de Estado russo destacou como aspetos que favorecem esta posição do seu país a neutralidade da Turquia no conflito armado, as capacidades da indústria de processamento de cereais daquele país e os esforços do respetivo Presidente, Recep Tayyip Erdogan, para assegurar os interesses dos países mais pobres.

Também afirmou que a Rússia, mesmo que se retire de novo do acordo, está preparada para fornecer cereais aos países mais necessitados.

"Em qualquer caso, inclusive se a Rússia se retirasse deste acordo, nós, como já dissemos antes, estaremos prontos para fornecer gratuitamente todo a quantidade de cereais retirados do território da Ucrânia aos países mais pobres", como forma de compensação, indicou.

Putin voltou a criticar o acordo, ao referir que só 4% dos cereais ucranianos exportados ao abrigo do pacto chegam aos países mais carenciados.

"O pacto foi feito com o pretexto de garantir os interesses da segurança alimentar dos países mais pobres, mas só cerca de 4% saiu do território da Ucrânia para os países mais pobres. E tudo o resto, na sua maioria, 46%, foi parar aos países da União Europeia", sustentou.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 252.º dia, 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

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