"Considerando o contexto e as especificidades da economia nacional, consubstanciado pela conjuntura interna, decidiu-se ponderadamente pela manutenção das taxas de referência nos níveis atuais", anunciou o governador do BCV, Óscar Santos, ao apresentar, na Praia, o relatório de política monetária do banco central, de outubro.

"O BCV está, no entanto, consciente do alargamento do diferencial das taxas de juros de referência face às da Zona Euro, resultante do processo acelerado de normalização da política monetária pelo Banco Central Europeu, e do seu potencial impacto nos fluxos de capitais externos. Contudo, considerando as demais variáveis avaliadas, entende ser relevante manter, por ora, o pendor da política monetária", acrescentou.

"O Banco Central Europeu tem tido um comportamento muito agressivo, a retoma normal da política monetária menos acomodatícia por causa da inflação, mas há um debate alargado sobre isso. Temos um aumento acentuado das taxas de juros e mesmo assim a inflação continua a crescer", destacou igualmente.

Assim, no atual contexto, a política monetária do BCV "deverá manter o pendor acomodatício", considerando que "a economia nacional prossegue uma trajetória de recuperação, com a atividade económica a beneficiar da performance do setor do turismo, cujos resultados ultrapassaram largamente as expetativas, particularmente no primeiro semestre".

"As reservas internacionais líquidas situam-se num nível confortável, cobrindo mais do que cinco meses de importações de bens e serviços, considerado adequado para a manutenção da estabilidade do regime cambial de 'peg' fixo [paridade entre o escudo cabo-verdiano e o euro]", apontou Óscar Santos.

"As pressões inflacionárias não são endógenas e não decorrem do aumento da procura local originado pelo aumento da liquidez, pelo contrário resultam do aumento dos preços de energia e matérias-primas no mercado internacional que são transmitidos internamente pelo regime cambial", disse ainda, justificando a decisão do BCV.

O BCV prevê uma inflação de 8% em Cabo Verde este ano e de cerca de metade em 2023, segundo os dados apresentados hoje.

O banco central cabo-verdiano, anunciou ainda, vai ajustar o programa de financiamento de longo prazo aos bancos, lançado devido à pandemia de covid-19, estendendo-o ate´ junho de 2023, mas reduzindo o montante de colocação mensal, de 1.300 milhões de escudos (11,7 milhões de euros) para 1.000 milhões de escudos (nove milhões de euros), mantendo a maturidade de três anos para os leilões, e de um e dois anos para as operações bilaterais.

"O BCV continuará a acompanhar a evolução da conjuntura internacional e os riscos advenientes para a economia nacional, mantendo-se alerta e apto a intervir em qualquer momento visando a salvaguarda da estabilidade financeira e a garantia da credibilidade do regime cambial de 'peg' unilateral face ao euro", concluiu Óscar Santos.

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