“As reservas líquidas neste momento, em termos de divisas, estão abaixo de três meses de importação, o que é de certo modo inquietante”, disse o primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas, sublinhando que “a inflação está a subir e pode ultrapassar os sete por cento”, cenário “que agrava” a situação do país.

Jorge Bom Jesus, que assumiu o cargo na sequência das eleições legislativas de outubro, lamentou a situação macroeconómica do país, recordando que, por diversas vezes, este ano, missões do Fundo Monetário Internacional (FMI) fizeram a avaliação das contas do Estado e garantiram a sua normalidade.

Defendeu, por isso a contratação, nos próximos três meses, de auditores externos para apurar o real estado das finanças do país.

“As auditorias, os inquéritos, vão ser feitas ao nível interno, mas nós também estamos a formalizar a abertura de concurso para a auditoria externa, que são muito mais credíveis e mais abrangentes. Estamos em sintonia com o Presidente da República, que também exigiu essas auditorias, e com o parlamento, e eu acredito que em menos de 90 dias teremos o resultado do estado da Nação”, explicou o governante.

Jorge Bom Jesus garantiu que ainda que o governo vai assegurar o pagamento do 13.º mês aos funcionários públicos, apesar da grave crise financeira que o país atravessa.

“Não encontramos verbas para o pagamento de salário, nos últimos meses recorreu-se ao crédito bancário para o esse efeito, nós não fomos por essa via, mas o problema está praticamente resolvido”, garantiu Jorge Bom Jesus.

“Estamos a falar na ordem de cerca de quatro milhões de dólares, porque além dos salários nós temos o tradicional 13.º e este mês de dezembro era legítimo que cada um tivesse os seus salários e passassem a quadra festiva com algum alento, preparando-se para o novo ano que nos espera”, acrescentou o primeiro-ministro.

Para inverter a situação de crise financeira em que o país está mergulhado, o governo conta com o apoio dos parceiros de cooperação bilateral e multilateral, nomeadamente Angola, República Popular da China, União Europeia, Guiné Equatorial e Portugal.

“Nós temos que trabalhar no sentido de, no próximo programa, sanearmos as finanças públicas no sentido de tanto os investidores externos e o nosso tecido empresarial e a própria banca possam trabalhar num clima de maior estabilidade económica e financeira e num ambiente de negócios muito mais seguro”, disse o chefe do executivo.

Na suas primeiras declarações aos jornalistas depois de assumir funções, o primeiro-ministro garantiu que até finais deste mês vai entregar o programa do Governo ao parlamento e “logo a seguir” a proposta de Orçamento Geral do Estado para 2019.

Jorge Bom Jesus destacou a dignificação da Justiça e a garantia das liberdades individuais, a infraestruturação e crescimento económico, a dignificação do população, investindo no capital humano e melhorando os serviços sociais, bem como a atração de capital estrangeiro direto como principais eixos do programa do Governo.

O partido Ação Democrática Independente (ADI) venceu as eleições de 07 de outubro com maioria simples de 25 dos 55 deputados da Assembleia Nacional (parlamento), mas quem formou o governo foi o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) e da coligação PCD-UDD-MDFM, na sequência de um acordo pós-eleitoral assinado entre as duas forças e que garantiu maioria absoluta (28 em 55 deputados na Assembleia Nacional).

O ADI, partido então no poder, venceu as eleições com maioria simples (25 deputados), mas o Presidente da República, Evaristo Carvalho, convidou a segunda força mais votada a formar Governo, justificando a decisão com “a atual correlação de forças” no parlamento e “os superiores interesses” do país.

O líder do ADI e primeiro-ministro (2014-2018), Patrice Trovoada, abandonou o país ainda antes dos resultados oficiais do escrutínio serem publicados pelo Tribunal Constitucional e anunciou o seu afastamento do partido por um período de dois anos.