A segunda etapa do Circuito Mundial de Surf (CT) da World Surf League (WSL) arranca com o histórico Rip Curl Pro Bells Beach.
A praia australiana, em Vitória, a 10 quilómetros de Torquay e 100 de Melbourne, é palco de competições de surf desde 1961. Seguindo a tradição do fim de semana da Páscoa, abriu ontem o período de espera da etapa do circuito que se prolonga até 8 de abril.
Um evento carregado de história, celebrando 57 anos de diversos campeonatos de surf, é, este ano, marcado pela despedida do australiano Mick Fanning, três vezes campeão do mundo e quatro vezes vencedor naquele que é considerado um dos mais icónicos locais de surf a nível mundial. E com a curiosidade de ter sido em “casa”, na Austrália, nas ondas de Bells Beach, que Fanning tocou o sino pela primeira vez, em 2001. Tinha então 18 anos e foi, como rookie e com wild-card na mão, que se estreou no circuito.
“Mantém-se como uma das mais especiais competições de surf no mundo e uma das mais próximas do meu coração”, afirmou Fanning ao site da WSL. “Foi onde comecei a carreira e o lugar que escolhi terminar. Isto deve dizer o quanto significa para mim”, reafirmou.
Com transmissão na íntegra todas as etapas do circuito WSL de 2018, masculino e feminino na Sport TV e no MCS Extreme (canal gratuito e exclusivo para clientes MEO, posição 160 e 161, e que para além do WSL transmite em direto toda a Liga MEO Surf 2018), Mick Fanning integra o 12º heat com o havaiano Sebastian Zietz e Jesse Mendes (Brasil).
O campeão mundial Adriano de Souza, único brasileiro até à data a tocar o sino do troféu da vitória no Rip Curl Pro Bells Beach, entra na sétima bateria com Michel Bourez (Taithi) e o havaiano Keanu Asing. Por sua vez, o português Frederico Morais, o único surfista nacional entre os 34 que compões o CT, enfrenta as ondas no heat 9 na companhia de Kolohe Andino (USA) e Willian Cardoso (Brasil).
No quadro feminino, para a australiana Tyler Wright (irmão de Owen Wright, igualmente surfista do circuito mundial), campeã em 2017, o sucesso no Rip Curl Pro Bells Beach é um dos objetivos da época.
“Vencer o evento e tocar o sino é definitivamente uma das minhas grandes metas e algo que quero mesmo conseguir, por isso é o objetivo número um este ano”, sublinhou a surfista natural de praia de Culburra.
A terra aborígene com nome de um pastor, e que um lutador olímpico mostrou ao mundo
Outrora território aborígene, da tribo Wathaurong, cujo coral rico em caranguejos e “orelhas do mar” servia de alimento às populações, é hoje uma plataforma do surf profissional, um verdadeiro coliseu que, tal como então, atrai amantes do mar a esta zona costeira e rochosa.
Com o território a passar para as mãos de John Calvert Bell, em 1840, e o areal a ganhar o nome de Bell’s Beach, só nos finais dos anos 30 do século XX os surfistas, vindos de Torquay, desbravavam os caminhos de lama com as pesadas pranchas ao colo. No início de 1960, depois dos surfistas locais tentarem negociar com os donos dos terrenos uma melhoria de condições na passagem, Joe Sweeney, atleta olímpico, com a ajuda de um bulldozer abriu uma estrada até à famosa praia, com os custos a serem cobertos pelo preço de uma libra por cada surfista que por ali passasse.
Com a estrada aberta ao público, começaram as competições de surf. O primeiro concurso teve início em janeiro de 1961 e a primeira competição ocorreu no ano seguinte, durante o dia de Páscoa. E, desde então, realiza-se anualmente, fazendo de Bell’s Beach, a mais longa competição de surf a nível mundial a ocorrer de forma contínua.
Em 1973, ano em que a zona costeira foi oficialmente declarada como Reserva de Surf, a primeira no mundo, a competição foi batizada de Rip Curl Pro, oferecendo prémios monetários e atraindo não só os melhores surfistas australianos, mas também de todo o mundo, ganhando o direito a etapa do Circuito Mundial.
O conhecido troféu foi desenhado Joe Sweeney, que para além de atleta e surfista foi carpinteiro e estipulou que somente os vencedores da competição podiam tocar o sino.
E quem triunfou na água recebeu, desde 1974, réplicas construídas pelas mãos de Sweeney (até à data da sua morte, 2016), papel agora assegurado pelo o filho. Silvana Lima foi, no entanto, mais longe e, depois de ter sido a primeira surfista brasileira a vencer a etapa australiana, em 2009, tatuou uma imagem do sino no corpo. Ou não fosse este “o troféu que se pode vencer no surf” conforme descreveu Kelly Slater, depois de ter tocado pela terceira vez o sino, ele que conquistou 11 títulos no circuito mundial.
Comentários