Volodymyr Zelensky alertou, na véspera do que pode ser sua viagem diplomática mais importante desde a invasão em larga escala da Rússia, há quase três anos, que não garante que a segurança do seu país esteja garantida caso o apoio norte-americano seja retirado.

“Há vozes que dizem que a Europa poderia oferecer garantias de segurança sem os americanos, e eu digo sempre não”, disse o presidente ucraniano durante uma entrevista de uma hora com o The Guardian na administração presidencial em Kiev. “Garantias de segurança sem a América não são garantias de segurança reais”, acrescentou.

"Só os Patriot conseguem defender-nos contra todos os tipos de mísseis, só os Patriot... Por isso, só por este pequeno exemplo, dá para perceber que sem os EUA as garantias de segurança não estão completas", disse ainda.

Zelensky vai viajar para a Conferência de Segurança de Munique no final desta semana, onde espera encontrar o vice-presidente dos EUA, JD Vance. Na conferência do ano passado, Vance, então senador, recusou-se a encontrar-se com Zelensky.

Para manter Trump como aliado, Zelensky afirma também que está disponível para oferecer concessões de investimento e contratos de reconstrução do país a empresas norte-americanas, aliciando os EUA com as reservas de urânio e titânio que o solo ucraniano tem e que podem interessar a empresas de alta tecnologia.

Numa entrevista à Fox News Donald Trump já informou que vai querer ser reembolsado por todo o dinheiro que os EUA puseram na Ucrânia, exigindo a Kiev o equivalente a 500 mil milhões de dólares (484 mil milhões de euros, ao câmbio atual) em minerais raros usados no ramo eletrónico e alta tecnologia. “Vamos ter todo esse dinheiro lá e quero-o de volta”, afirmou Trump. "Pelo menos, assim não nos sentimos estúpidos".

Recentemente o presidente francês, Emmanuel Macron, lançou a ideia de uma força de manutenção da paz europeia que poderia ser enviada para a Ucrânia em algum momento após um acordo de cessar-fogo. Zelensky disse que tal missão só funcionaria se fosse enviada em grande escala.

“Quando se trata da ideia de Emmanuel, se for parte [de uma garantia de segurança], então sim, se houver 100-150.000 tropas europeias, então sim. Mas mesmo assim não estaríamos no mesmo nível de tropas que o exército russo que está a opor a nós”, disse.

Se Trump conseguir levar a Ucrânia e a Rússia à mesa de negociações, Zelensky informou ainda que planeia oferecer à Rússia uma troca direta de território, abrindo mão das terras que Kiev detém na região russa de Kursk desde o lançamento de uma ofensiva surpresa há cerca de seis meses.

“Nós podemos trocar um território por outro”, sublinhou, mas acrescentou que não sabia qual parte da terra ocupada pela Rússia a Ucrânia pediria em troca. “Eu não sei, nós veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há prioridade”, acrescentou.