"Nunca pensa que algo assim pode acontecer consigo", apesar da crescente preocupação entre os utilizadores do metro de Nova Iorque, disse Lynskey à AFP na sua casa, após recuperar de uma fratura no crânio, quatro costelas quebradas e uma ruptura no baço.

"Foi tão rápido que tudo o que pensei foi: 'Fui empurrado, vou ser atingido pelo metro e vou morrer'".

Nova-iorquino por adoção, Lynskey, de 45 anos, é — embora ainda não tenha conseguido usar o metro novamente — um dos quatro milhões de passageiros diários do metro de Nova Iorque, o maior e mais movimentado do país, com 472 estações e mais de 1.000 km de trilhos, aberto dia e noite.

Caiu no vão entre os carris. Quando abriu os olhos após o impacto, estava embaixo debaixo do metro, a poucos centímetros do carril de alta tensão que alimenta os vagões, e havia sangue no chão abaixo da sua cabeça.

"Eu sabia que precisava manter a calma", disse. Começou a pedir socorro porque não tinha certeza se o motorista, cuja silhueta vislumbrou ao cair, ou alguém na plataforma — vazia quando chegou — o tinham visto.

Pouco depois, ouviu a voz de uma "boa samaritana" que começou a perguntar o seu nome e se conseguia mover os dedos das mãos e dos pés. "Acho que me estava tentando manter acordado", diz.

"Quatro minutos depois", bombeiros de uma estação próxima, policias e funcionários da MTA, a empresa de metro de Nova Iorque, chegaram.

Dois bombeiros que o retiraram de baixo do trem tinham feito um curso no dia anterior sobre como proceder nestes casos.

O produtor musical encontrou-se com eles para agradecer por "colocarem as suas vidas em perigo" e para lhes dar um abraço.

"Todos merecem sentir-se seguros quando apanham o metro para o trabalho", disse Lynskey.

"Assustadores"

Um homem de 23 anos com antecedentes criminais e problemas de saúde mental foi preso após o ataque. Declarou-se inocente.

Em 2024, 26 pessoas caíram nos trilhos do metrô (uma delas perdeu a vida), nove a mais que no ano anterior, segundo a Polícia de Nova Iorque.

Outros casos, como o de um jovem com transtornos mentais que foi dominado e asfixiado em 2023 por um ex-militar (absolvido em dezembro) e o de uma mulher que morreu queimada numa carruagem, dispararam alarmes.

No início do ano, autoridades de Nova Iorque anunciaram uma queda de 5,4% nos crimes e infrações no metro de Nova Iorque no ano passado, em comparação a 2023. Mas o número de mortes, doze em 2024, dobrou.

O próprio presidente da MTA, Janno Lieber, reconheceu recentemente que, embora as estatísticas tenham melhorado no geral, "esses incidentes de alto perfil são realmente assustadores".

Marissa Keary, 24 anos, disse à AFP que "intensificou" os seus cuidados.

"Quando apanho o metro e tenho que esperar, encosto as costas à parede e também fico perto de outra mulher (...) Fico ao lado de pessoas que não parecem ameaçadoras", explica.

Decadente

O metro, decadente e sujo da capital financeira e meca turística de 8 milhões de habitantes, perdeu 1,5 milhão de passageiros diários desde a pandemia, mas continua a ser o meio de transporte mais rápido.

Em meados de janeiro, as autoridades anunciaram reforços policias nas estações e vagões, mais recursos públicos e melhores políticas de saúde mental. Também começaram a instalar barreiras nas plataformas para proteger os passageiros e milhares de câmeras de segurança.

Com uma dívida de 46,8 mil milhões de dólares e uma necessidade de financiamento de 65,4 mil milhões para ser renovado entre 2025 e 2029, os administradores do metro estão confiantes de que o presidente Donald Trump não revogará a taxa de congestionamento (9 dólares, 52 reais) sobre os carros que circulam em Manhattan, em vigor desde janeiro, que será revertida para modernizar o metro.

Enquanto isso, o presidente da MTA espera convencer o Legislativo estadual a aprovar receitas adicionais para evitar o colapso do metro de Nova Iorque.