O magnata imobiliário e ex-presidente (2017-2021) construiu ao longo do tempo uma imagem caricata e hipermasculina, que inclui, de maneira mais controversa, a ostentação de agressões sexuais.
Agora, com as eleições americanas a aproximar-se no dia 5 de novembro, nas quais a democrata Kamala Harris se está a tentar tornar a primeira mulher presidente do país, os poderes machistas de Trump estão a ser testados.
Kamala vê um aumento no apoio feminino e fez da questão do direito ao aborto ser um tema central da campanha. Trump, por sua vez, mira sem complexos na parte do eleitorado que adora criptomoedas, lutas violentas de artes marciais mistas do UFC (Ultimate Fighting Championship) e acredita que a sociedade é hoje em dia excessivamente feminina e "woke" (progressista consciente).
"Trump fala para a nossa geração", destaca o apoiante Nick Passano, presente no comício de Make America Great Again (MAGA) de Trump em Johnstown (estado da Pensilvânia), na última sexta-feira. Este homem barbudo está na primeira fila com outros quatro millenials que investem em criptomoedas (nascidos após o início da década de 1980 até, aproximadamente, a primeira metade da década de 1990). Autodenominam-se “Maga Boyz”.
"Temos que definir o tom sobre o que queremos que os nossos filhos imitem, que são homens fortes e masculinos. E Trump representa isso", explica Passano de 37 anos, um dos vários homens que conversaram com a AFP sobre a "manosfera" (rede de coletivos, imprensa e comunidades que promovem a masculinidade) alinhada a Trump.
Os homens usavam camisas com imagens explícitas, como Trump a fazer o gesto do dedo do meio, e afirmaram que não deveriam mais tolerar "mais parvoíces".
Pode parecer exagerado que um jogador de golfe multimilionário, de 78 anos, se passe por um "bad boy", mas Trump sabe mais do que qualquer outro político americano sobre marketing e presença na imprensa.
A sua resposta após ser acusado de 34 crimes graves em Nova Iorque em maio passado foi comparecer dias depois a um combate da UFC, sendo recebido com uma estrondosa salva de palmas dos quase 16.000 espetadores.
E durante a Convenção Republicana em julho, dias depois de Trump ser ferido numa tentativa de assassinato a tiro durante um evento, o ícone da luta livre profissional Hulk Hogan rasgou a sua camisola para exibir os seus músculos e aclamar o republicano como "gladiador".
Os eleitores parecem estar atentos: uma nova pesquisa da ABC News/Ipsos mostra que Trump supera Harris por cinco pontos entre os homens, enquanto a atual vice-presidente lidera entre as mulheres por 13 pontos.
Macho Alfa
Quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda estava na corrida pela reeleição, a estratégia de Trump foi inequívoca. Embora fosse apenas um pouco mais jovem que o democrata, criticou-o por ser fraco e senil e deleitou-se a vitória clara durante um debate televisivo em junho. A combinação de fatores gerou um movimento partidário entre os democratas que forçou Biden a retirar-se da disputa.
A entrada de Harris, de 59 anos e escolhida pelo presidente como a sua substituta, significa que Trump agora enfrenta alguém muito mais jovem. O republicano também precisa lidar com o risco de que o seu estilo agressivo se volte contra ele ao enfrentar uma oponente feminina e negra.
Segundo Paul Johnson, professor de comunicações da Universidade de Pittsburgh, Trump não mudará de tom.
O republicano está a promover a "visão trumpista do mundo", declarou Johnson à AFP: um mundo "desagradável" onde "os 'verdadeiros americanos' devem estar prontos para lutar por ele, dizer verdades incómodas e racistas sobre o mundo e, se necessário, usar a violência".
Este comportamento reflete-se nas frequentes partilhas de Trump nas redes sociais e na imprensa com ataques cruéis e sexualizados contra Harris e a sua tentativa de abordar a questão racial ao questionar se a democrata é realmente negra.
No entanto, para os jovens presentes no comício de Johnstown, isso é simplesmente uma demonstração de Trump sem medo.
"Eu acho que o facto de Trump ser ele mesmo é a razão pela qual eu gosto tanto dele", disse Wyatt Waszo, que trabalha num restaurante e tem 21 anos.
O "desconforto masculino"
O movimento machista vai muito além de Trump.
As alegações do ex-presidente de que os democratas estão a descartar a masculinidade e a acabar com as profissões dominadas por homens, como a indústria e a mineração, ganham eco nas comunidades industriais, estratégicas do ponto de vista eleitoral.
É uma mensagem que se repete em inúmeros programas de rádio de direita e podcasts influentes sobre o chamado "desconforto masculino".
É uma reação contra a globalização e movimentos pelos direitos das mulheres e dos negros como #MeToo e Black Lives Matter, respetivamente, explicou Kristin Kobes Du Mez, professora de história e estudos de género na Universidade Calvin.
"O jogo de Trump é aproveitar o medo (dos eleitores) de perder o que têm", alegou.
Uma pesquisa PerryUndem realizada por pesquisadores não partidários em 2023 mostra que 82% do eleitorado republicano masculino acredita que a sociedade atual castiga os homens "só por agir como homens".
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