A notícia da agência de notícias oficial norte-coreana KCNA é a primeira confirmação oficial por parte de Pyongyang da detenção de Travis King, que assim se torna o primeiro norte-americano detido no país em quase cinco anos.
King, alvo de um processo disciplinar por parte do exército dos EUA, atravessou em 18 de julho, “voluntariamente e sem autorização”, a fronteira, segundo o comando da força multinacional da ONU, que supervisiona o cumprimento do armistício entre as duas Coreias.
De acordo com a KCNA, King disse que tinha decidido entrar na Coreia do Norte porque “guardava ressentimentos contra maus-tratos desumanos e discriminação racial dentro do exército dos EUA”.
A agência acrescentou que King expressou também vontade de procurar asilo na Coreia do Norte ou num outro país, dizendo que “estava desiludido com as desigualdades da sociedade norte-americana”.
King esteve preso na Coreia do Sul durante dois meses após uma briga numa discoteca e um incidente com a polícia em Seul.
Em 10 de julho, saiu da prisão para ser conduzido sob escolta ao aeroporto, de onde deveria ter partido para uma audiência disciplinar nos Estados Unidos.
Em vez disso, conseguiu fugir e juntou-se a um grupo que visitava a fronteira na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias.
A Coreia do Norte e a Coreia do Sul permanecem tecnicamente em guerra porque nunca assinaram um tratado de paz, mas apenas um acordo para cessar os combates.
A maior parte da fronteira entre os dois países asiáticos é fortificada.
Em muitas ocasiões, Pyongyang deteve norte-americanos e utilizou-os como moeda de troca.
Soo Kim, especialista da consultoria LMI e antiga analista da CIA, disse à agência de notícias Associated Press que a notícia da KCNA “é 100% propaganda norte-coreana”.
“King, como cidadão norte-americano detido na Coreia do Norte, não tem influência sobre como a RPDC [República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte] decide contar a sua narrativa”, disse Soo Kim.
“Talvez o regime tente trocar a vida de King por concessões financeiras dos EUA. Muito provavelmente, as negociações não serão fáceis e os termos serão ditados por Pyongyang”, disse a analista.
O incidente com Travis ocorre num contexto de grande tensão entre o Ocidente e o Presidente norte-coreano, Kim Jong-un.
O ministro de Defesa da Coreia do Norte acusou na terça-feira os EUA de estarem a colocar a península coreana numa guerra nuclear iminente e descartou a possibilidade de solucionar o conflito com negociações.
Desde o início do ano, os EUA transferiram grandes quantidades de armas nucleares para a Coreia do Sul, incluindo um submarino nuclear, um bombardeiro estratégico e um porta-aviões do grupo de ataque atómico, disse Kang Sun-nam, em Moscovo.
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