Funchosa de Cima, uma pequena povoação situada quase no limite norte daquele concelho do distrito de Faro, ainda recebe a visita do camião cisterna da Câmara, duas a três vezes por semana, situação que se mantém desde o início do verão, mesmo apesar de novembro já ter trazido consigo alguma chuva.
Situada a 27 quilómetros de Castro Marim, esta é uma das 32 localidades que vai passar a ser abastecida pela água das barragens que há anos estão ali tão perto, mas que ainda não chegou às torneiras, fazendo com que os habitantes dependam de furos para captar a água dos solos e, agora, dos camiões cisterna.
“O furo funciona, mas já tem pouca água. Temos de ir ao tanque com água da rede. Estamos à espera que eles acabem a obra, vamos lá ver” desabafa Manuel Lourenço, enquanto espera pela conclusão dos trabalhos que hão de trazer-lhe a tão esperada água canalizada.
As valas com os tubos estão quase à porta da sua casa, mas os anos que esperou por esta realidade não o deixam esboçar um sorriso de esperança. “Vamos ver quando cá chegar”, diz o habitante de Funchosa de Cima.
Entretanto, o camião cisterna da Câmara de Castro Marim faz várias dezenas metros em marcha atrás, já que a largura da estrada não permite uma inversão de marcha. Ainda é meio da manhã e há várias localidades para abastecer até ao final do dia.
A poucos quilómetros fica Monte da Estrada e é junto à paragem de autocarro que está colocado um tanque, com capacidade para 1.500 litros de água, um dos muitos distribuídos pela autarquia para reforçar o armazenamento aos habitantes.
Esta localidade de duas dezenas de habitantes, onde o autotanque passa de três em três dias, costumava ser abastecida por um furo que ia enchendo um tanque de 4.500 litros, mas agora o “furo secou”, lamenta José Amaro.
“Eles enchem o tanque e, para casa, temos de acartar com os baldes”, revela o idoso, apontando para a porta da sua habitação, situada a uns 20 metros do reservatório, numa subida.
Numa das colinas desta localidade são bem visíveis os depósitos que irão servir de apoio ao abastecimento de água e que acalentam a esperança dos habitantes, depois de terem visto concluídas as obras junto às suas casas.
“Pode ser que quando colocarem a água canalizada resolvam o problema” confidencia Sandra Romeira, outra habitante deste monte onde a falta de água se “tem vindo a agravar” e onde a maior parte dos furos “estão secos”.
A pouco quilómetros foram construídas, há 25 anos, as barragens do Beliche e de Odeleite, que passaram a garantir o abastecimento de água a quase metade do Algarve, no entanto, “pouco ou nada” trouxeram a estes territórios, lamenta a vice-presidente da Câmara de Castro Marim.
“É um benefício para toda a região, mas cabe ao município conseguir as verbas para garantir o abastecimento às populações, que há anos olham para estas bacias sem delas poderem usufruir”, afirma Filomena Sintra, lamentando que não haja mais investimento em novas estruturas para a retenção de água.
Um plano da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) faz referência à construção de duas novas barragens no Algarve, segundo a autarca, uma delas estudada há “20 anos” e que poderia “aumentar em 15%” a capacidade de fornecimento de água ao Algarve, mas “nunca foi inscrita uma linha” para esse investimento.
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