“Esta chuva não resolve o problema da seca, nem o armazenamento necessário até ao final do ano, mas o nível de água no solo melhorou consideravelmente”, afirmou à Lusa Pedro Valadas Monteiro.
Na zona de Faro, indicou, a Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) chegou a registar em duas semanas quase 80 milímetros de chuva, o que classificou como “muito bom”. No nordeste algarvio, onde a seca tem sido mais persistente, os concelhos de Castro Marim e Alcoutim, também no distrito de Faro, registaram 70 milímetros no mesmo período, “o que representa mais de 10% dos 600 milímetros anuais”.
“Com a precipitação destas duas semanas deve ter havido um reforço nas barragens do sotavento [zona oriental do Algarve] de quatro hectómetros cúbicos – quatro milhões de metros cúbicos”, destacou.
Considerando os 20 hectómetros cúbicos necessários anualmente para agricultura e os mais de 30 hectómetros cúbicos do abastecimento público, mesmo somando ao que já estava nessas bacias de Odeleite-Beliche, há ainda “um défice de quatro a cinco hectómetros cúbicos até ao final do ano”.
No final de fevereiro a zona central do Algarve e o nordeste encontravam-se “em seca extrema”, mas no barlavento “já havia zonas em seca fraca e outras em moderada”. No sotavento “houve uma melhoria”, mas, ainda assim, “mantém-se em seca extrema ou severa”, dependendo das zonas.
Para as culturas de sequeiro, a quantidade de água no solo é um dado importante e em dezembro esses valores “eram dramáticos”, com “mais de metade do território algarvio abaixo dos 10% do chamado ponto de murcha permanente”, revelou, referindo-se ao nível de humidade a partir do qual a planta não consegue retirar mais água do solo.
A partir deste valor as raízes dos matos e sequeiro, habituadas a “explorar a água que existe naturalmente no solo, já não a conseguem absorver por ser tão escassa”, esclareceu.
Os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de terça-feira (31 de março) indicam uma melhoria acentuada a este nível, com valores acima dos 20% - uma grande parte do Algarve tem percentagens entre os 41% e os 60%, e algumas zonas superam os 60% de água no solo.
Estes valores “são suficientes para as culturas de sequeiro”, quer para a floração – a acontecer nesta altura -, quer para o início do crescimento do fruto durante as próximas semanas.
Os concelhos de Silves, Lagoa e Portimão “não apresentam preocupação de maior, tanto pela chuva registada como pelas “obras efetuadas nos últimos anos” no perímetro de rega, que, segundo o diretor regional, contribuíram para “a diminuição das perdas e melhor aproveitamento da água”.
No entanto, a decisão do Governo de passar a utilizar a água da barragem do Funcho, no concelho de Silves, para uso humano – e não só para uso agrícola – deixou os agricultores “com algum receio”.
Pedro Valadas Monteiro considerou a situação “gerível”, mas sublinhou ser essencial “uma boa gestão” por parte dos agricultores, “controlando muito bem a quantidade de água no solo e aplicando apenas o necessário”.
Para o futuro, o diretor regional defendeu que é necessário um reforço do armazenamento e referiu que “retirar água do rio Guadiana” é uma opção – à semelhança do que está a ser feito por Espanha. Isto aconteceria junto ao Pomarão, no concelho de Mértola, distrito de Beja, “já que os últimos estudos indicam que a água do mar não chega a esta zona”.
Outra medida “essencial” é, no seu entender, a construção do açude galgável na ribeira da Foupana, entre Castro Marim e Alcoutim, opção já defendida pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes.
Comentários