Na apresentação da sua Comissão de Honra, perante uma sala cheia num hotel de Lisboa, o antigo autarca do Porto voltou a defender como um dos pilares do seu programa político uma reforma do regime, lembrando que este tem 41 anos (referindo-se à aprovação da Constituição em 1976), os mesmos que o Estado Novo quando ruiu “com um encontrãozito”.
“Acho que nós precisamos de um novo 25 de Abril, não um 25 de Abril militar, mas um 25 de Abril civil e reformista. Estamos em hora de revisitar o 25 de Abril para dar à democracia a vitalidade que ela precisa”, defendeu.
Para Rui Rio, era impossível que o atual regime mantivesse a mesma vitalidade numa sociedade que mudou muito nas últimas quatro décadas e salientou que o que está em crise é mais a substância da democracia que os seus formalismos.
“Se não ajustarmos o regime a esta sociedade só por milagre teremos as pessoas de braço dado com o regime e não afastadas como estão”, afirmou, dizendo que este afastamento se sente não só na política, mas também na justiça ou nas relações de poder.
Rio apontou esta reforma como uma das tarefas que o PSD não pode fazer sozinho, demarcando-se de “manobras táticas de curto prazo” que significam sempre adiar os desígnios do país.
“Quando um partido político está consciente que sozinho não consegue resolver um problema estrutural, tem obrigação de colaborar com os outros, esteja no poder ou na oposição”, defendeu, apontando as áreas da segurança social, justiça, descentralização ou política florestal como exemplos práticos de reformas necessárias e não concretizadas.
Rui Rio voltou hoje a apelar aos militantes do PSD para que votem nas diretas de 13 de janeiro no candidato com mais possibilidade de ganhar eleições legislativas.
“Não vale a pena ganhar eleições cá dentro se isso não significar nada lá fora. Não vale a pena ter pessoas de elevada notoriedade interna e sem qualquer notoriedade externa”, defendeu, voltando a alertar para a erosão eleitoral que o PSD tem vindo a sofrer.
Para Rui Rio, a forma de travar esta erosão – defende que a implantação do partido se faz mais pelas autarquias do que pelo número de deputados - tem de começar pela clarificação do posicionamento do partido.
“Nós somos um partido social-democrata, não somos a direita em Portugal, nem somos a esquerda (…) O dr. Francisco Sá Carneiro, o professor Aníbal Cavaco Silva, o dr. Francisco Balsemão não são homens de direita, são sociais-democratas, como sou eu e como são todos os militantes do PSD”, defendeu, recebendo fortes aplausos da sala.
Pinto Balsemão, militante número do partido e primeiro subscritor da candidatura de Rui Rio, assistiu na primeira fila a esta intervenção, tal como outros militantes ‘notáveis’ que integram a Comissão de Honra de Rio, como a ex-líder Manuela Ferreira Leite ou Ângelo Correia.
Sobre a política económica que defende, Rio traçou uma meta que o próprio classificou de “arrojada”: procurar no mais curto espaço de tempo chegar a 101% da média do PIB per capita da União Europeia (atualmente Portugal está nos 70%).
O candidato voltou a sublinhar que nem a redução do défice nem do endividamento são objetivos em si mesmo, mas apenas condições para melhorar as condições de vida das pessoas.
“A nossa felicidade não é atingida no dia em que o défice for zero”, afirmou.
Rui Rio defendeu um modelo de crescimento inverso ao praticado antes da ‘troika’ e ao que tem sido seguido, em parte, pelo atual Governo.
“Se não estamos a crescer totalmente com base no consumo é porque Bruxelas nos impõe barreiras. Se Bruxelas não impusesse barreiras estávamos outra vez numa situação pré-‘troika’”, alertou.
O PSD escolherá o seu próximo presidente em 13 de janeiro em eleições diretas, com Congresso em Lisboa entre 16 e 18 de fevereiro.
Até agora, anunciaram-se como candidatos à liderança do PSD o antigo presidente da Câmara do Porto Rui Rio e o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.
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