Um quadro e várias fotografias de Vasco Rocha Vieira, último governador de Macau, entre 1991 e 1999, repousam em duas salas do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa.
O registo para a posteridade viaja entre um tributo que escorre pelas paredes da recém-inaugurada Galeria dos Governadores - retratos oficiais dos governadores portugueses de Macau - e o contributo histórico pendurado na exposição “Macau, os últimos dias da administração portuguesa”, uma imersão documental e factual dos últimos dias da presença portuguesa em Macau da autoria do fotógrafo Rui Ochoa e que estará patente até maio.
O Tenente-General Rocha Vieira é o último dos 41 quadros da “Exposição dos Governadores” que abarca 150 anos de história da presença portuguesa e que passam por diferentes contextos políticos, económicos e socais, um período compreendido entre 1846 e 1999. O primeiro é de João Maria Ferreira do Amaral (1846-1849).
Uma cronologia de caras acompanhadas do curriculum de atos e ações que cada um executou no “quarteirão do jogo”, obras anteriormente pendurados na sala dos Retratos no Palácio da Praia Grande, em Macau, transladadas em 1999 para o CCCM e depositadas, agora em permanência, na Rua da Junqueira, número 30, em Lisboa.
Os últimos dias do governador a cores e a preto e branco
O último governador de Macau e antigo chefe do Estado-Maior do Exército e ministro da República para os Açores, Vasco Rocha Vieira, é, igualmente, personagem principal da exposição promovida pela Fundação Jorge Álvares (FJA) e cuja curadoria é de Elisa Ochoa, filha de Rui Ochoa.
“Não é uma exposição de fotografia, não é uma exposição de arte fotográfica. É, digamos, uma exposição documental”, antecipou Rui Ochoa, o homem por detrás da lente nos dias que antecederam a transferência de Macau para a administração chinesa.
“Não tem nada de especial. Todas as fotografias são documentos, com certeza, mas nesta o documento subordinou-se, ou melhor, a arte subordinou-se um bocadinho ao documento”, descreveu o fotógrafo oficial da Presidência da República em conversa com o SAPO24.
“Pretende apresentar documentos que têm a ver com os últimos dias da governação de Portugal em Macau. E os últimos dias do último governador”, continuou.
“São os últimos momentos, a passagem do governo, os últimos retratos do governo, as reuniões da Assembleia Legislativa, a cerimónia do dia 19 (dezembro de 1999) à noite, a chegada do presidente chinês e do presidente português, enfim, uma série de cerimónias de cariz diplomático”, detalhou o fotógrafo que ao serviço do jornal Expresso captou o último mês da governação de Rocha Vieira em Macau, registando o lado mais pessoal, na casa do governador, Santa Sancha, e institucional, expresso nas atividades no Palácio do Governador.
“O critério foi sempre os tais últimos momentos e as últimas cerimónias, que culminam numa fotografia dentro do avião que regressou com todos os membros do governo”, precisou.
“Pelo meio, tem algumas fotografias mais de cariz artístico, um toque artístico local”, onde se destacam cenas da vida da cidade nos últimos dias da administração portuguesa ou as imagens das Ruínas de São Paulo, acrescentou o fotógrafo que pisou Macau, pela primeira vez, a 13 de abril de 1987, após a assinatura da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, em Pequim. A última vista foi no dia da partida da administração portuguesa, a 20 de dezembro de 1999.
A nostalgia 25 anos depois
25 anos depois a nostalgia toma conta do coração e da objetiva de Ochoa. “Macau deve estar muito transformado em relação ao tempo. Em 1987, vindos da China, entrámos pelas Portas do Cerco e desde aí até à cidade propriamente dita era quase um descampado. Seis anos depois, acompanhei o então primeiro-ministro Cavaco Silva, já não havia tanto descampado quanto isso, já estava encurtado, a cidade já se tinha aproximado. E da última vez, em 1999, estava já tudo envolvido”, recordou.
“Desde 1999 nunca mais lá fui”, afirmou o fotógrafo que guarda nos ficheiros da memória a “obra” feita no território pelos portugueses. “Fui convidado várias vezes e era engraçado regressar e estabelecer o paralelo entre o Macau daquela altura e o de agora, 25 anos depois. Pode ser que haja algum benemérito”, finalizou.
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