Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz são os três candidatos conhecidos à liderança do Partido Social-Democrata, com eleições diretas marcadas para o início do próximo ano.
Todos criaram ‘sites’ onde dão a conhecer as suas visões políticas para o partido e respetivos apoios públicos, e onde têm partilhado também detalhes das suas vidas pessoais.
No sítio da internet de Rui Rio estão fotografias da sua infância, dos tempos em que praticava desporto até à sua entrada na vida política, e na página de Miguel Pinto Luz estão também fotografias do candidato em criança e de vários momentos até à sua idade adulta, como um instantâneo da sua primeira comunhão.
Até à data, Miguel Pinto Luz foi o único a criar uma conta de Instagram para efeitos de campanha.
Luís Montenegro tem feito uma maior aposta no ‘design’ e na imagem das suas redes sociais – por exemplo, no ‘site’ do candidato foi publicado um vídeo com os apoios que recolheu até agora, que conta com banda sonora.
Nessa plataforma, Montenegro apela ainda ao seu currículo político e sublinha as características a si atribuídas pelos seus apoiantes.
Carla Baptista, docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH-UNL), considera que a pessoalização do processo é evidente e expressa uma necessidade dos sociais-democratas em “transformar as suas eleições internas num assunto nacional”, depois dos resultados das últimas eleições legislativas.
Nas legislativas de 06 de outubro, os sociais-democratas obtiveram 27,7% dos votos e 79 deputados (menos dez do que na anterior legislatura), sendo o segundo partido mais votado, a seguir ao PS.
Para a docente, esta pessoalização “é mais visível na campanha do candidato Miguel Pinto Luz” que “tem uma necessidade de se visibilizar maior do que a dos outros candidatos”, e menor na campanha de Rui Rio que, apesar de algumas cedências, mantém “uma lógica bastante clássica e conservadora”.
No caso de Luís Montenegro, o ‘slogan’ de campanha “A força que vem de dentro”, as imagens escolhidas e os testemunhos traduzem “um projeto de rutura e de vitória, mais assertivo, mais agressivo“, na opinião da docente.
André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, considera que apesar de não ser uma novidade, existe uma tendência de “crescente enfoque em aspetos pessoais” em campanhas políticas.
O investigador acredita que há um cansaço por parte do eleitorado face às campanhas políticas tradicionais e que essa tomada de consciência por parte dos candidatos “gera uma tendência para procurar meios alternativos de comunicar” e um reforço na pessoalização.
As redes sociais facilitam a passagem de histórias pessoais curtas, apelando à emoção e dificultam a passagem de mensagens mais elaboradas, salienta André Azevedo Alves.
O docente corrobora a ideia de uma maior pessoalização na campanha de Miguel Pinto Luz, que contrasta com a de Rui Rio, candidato que “já está na política há muito tempo e tem sempre preservado a não exposição”.
Pedro Pereira Neto, doutorado em Ciências Sociais com especialização em Sociologia Política, crê num avanço da “campanha-espetáculo centrada na figura pessoal e não nas ideias ou propostas políticas”, ressalvando que Portugal ainda está longe do estilo praticando em países como os Estados Unidos da América.
O sociólogo sublinha uma tendência de “estabelecimento de pontos numa base emotiva e não tanto referencial” e de “uma pretensa identificação com a pessoa-candidata”.
Pedro Pereira Neto salienta, no entanto, que é importante não sobrestimar a utilidade deste tipo de campanha, porque o país apresenta uma acentuada desigualdade na posse de “equipamento e conhecimentos” tecnológicos e porque os candidatos não tiram partido destes recursos da mesma forma.
Até à apresentação oficial da sua candidatura, no âmbito da campanha interna à liderança do PSD, Miguel Pinto Luz limitou as suas ações de comunicação pública às redes sociais, nomeadamente o Facebook.
O candidato usou aquela rede social para divulgar posições e iniciativas, fazendo saber que não prestaria declarações à imprensa.
Para Pedro Pereira Neto, esta é uma postura “defensiva” que garante que o contacto com os media ocorre em condições que favoreçam o candidato, uma forma de fazer campanha baseada na comunicação direta com o eleitorado.
O período de apresentação de candidaturas para a liderança do PSD termina dia 30 de dezembro. As eleições diretas para escolher o próximo presidente do PSD realizam-se em 11 de janeiro, com uma eventual segunda volta uma semana depois, e congresso marcado para entre 07 e 09 de fevereiro, em Viana do Castelo.
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