“Aquilo que tem sido transmitido é uma imagem dos empresários portugueses como se fossem Joe Berardo e não é assim. Os empresários portugueses são gente que honra os seus compromissos, que arrisca, mas também que se pauta por ética, rigor, cumprimento das suas obrigações”, disse António Saraiva em declarações à Lusa, considerando que Berardo “não é o paradigma dos empresários portugueses”.
Para o líder da confederação patronal é incorreto ver qualquer semelhança entre a maioria do empresariado português e Joe Berardo, referindo até que o “grau de exigência” pedido às empresas na concessão de créditos é muito diferente da que foi pedida a Berardo e que os responsáveis por isso também devem ser responsabilizados.
Saraiva disse que quando a sua empresa recorre a empréstimos lhe são exigidas “garantias pessoais, livranças em branco”, ou seja, que a responsabilidade pessoal do empresário responda pela insuficiência da empresa, pelo que defendeu que têm de ser responsabilizados aqueles que concederam empréstimos adulterando as regras.
“Se neste ou naquele caso estas regras não existiram, há responsabilidades que têm de ser apuradas, a culpa em Portugal não pode continuar a morrer solteira”, afirmou.
Sobre a retirada da condecoração da República Portuguesa a Joe Berardo, António Saraiva disse que também ele foi agraciado e que por isso sabe que esse processo passa pela assinatura pelo condecorado de um compromisso de ética e comportamento.
“Se essas regras [que os condecorados assinam] forem declaradamente incumpridas […], há uma quebra de compromisso e a manutenção [da condecoração] deve ser revista”, defendeu.
A ida de Joe Berardo à comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD), na passada sexta-feira, provocou nos últimos dias uma chuva de críticas, desde logo pela forma como se dirigiu aos deputados.
Perante os parlamentares, o empresário madeirense declarou que é “claro” que não tem dívidas, uma vez que as dívidas aos bancos (incluindo o banco público CGD) não são dívidas pessoais, mas de entidades ligadas a si, e que tentou “ajudar os bancos” com a prestação de garantias e que foram estes que sugeriram o investimento em ações do BCP.
Deu ainda a entender que os títulos de participação da Associação Coleção Berardo (a dona das obras de arte) que entregou aos bancos para reforçar as garantias dos empréstimos perderam valor com um aumento de capital em que as entidades financeiras não participaram, aparentemente porque não souberam que existiu.
A várias perguntas dos deputados, Joe Berardo disse ainda que deveriam era ser feitas aos bancos em causa: “Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro”.
Já confrontado com a ideia de que a Caixa “está a custar uma pipa de massa”, respondeu: “A mim, não!”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse hoje que não se oporá a um eventual processo do Conselho das Ordens Nacionais a Joe Berardo para apurar se violou os seus deveres de titular da Ordem do Infante D. Henrique.
O empresário José Manuel Rodrigues Berardo, conhecido por Joe Berardo, recebeu duas condecorações da Ordem do Infante D. Henrique, que é uma das Ordens Nacionais. Foi condecorado pelo Presidente António Ramalho Eanes com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, em março de 1985, e depois com a Grã-Cruz da mesma ordem, em outubro de 2004, que lhe foi atribuída por Jorge Sampaio.
Atualmente, o Conselho das Ordens Nacionais tem como chanceler a antiga ministra das Finanças e antiga presidente do PSD Manuela Ferreira Leite.
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