O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, é a vítima mais recente de uma longa lista iniciada pelo famoso confronto de Trump com o ucraniano Volodimir Zelensky, em fevereiro.

Sob o comando do republicano, o Salão Oval deixou de ser um prémio diplomático durante o governo do seu antecessor, Joe Biden, para se tornar um impasse político em que os nervos dos líderes mundiais são testados e transmitidos ao vivo pela televisão.

A cena tornou-se bastante familiar: presidentes ou chefes de Estado sentam-se inquietos na ponta das suas poltronas banhadas em ouro em frente à famosa lareira, esperando para ver o que vai acontecer.

O chefe de Estado americano deixou um exemplo muito claro quando recebeu Zelensky e o humilhou à frente do mundo inteiro.

As fortes tensões sobre a repentina guinada de Trump em direção à Rússia vieram à tona quando o presidente americano repreendeu o líder ucraniano, a quem chamou de ingrato pela ajuda militar que o seu país recebeu.

Muitos questionaram se essa foi uma emboscada deliberada, sobretudo quando o vice-presidente JD Vance pareceu intervir para desencadear a disputa, chamando o ucraniano de "desrespeitoso".

Propositadamente ou não, os líderes do governo convidados têm sido cautelosos desde então para "evitar um Zelensky".

No entanto, a visita de Ramaphosa à Sala Oval na quarta-feira chegou muito perto de repetir a cena.

O presidente sul-africano reuniu com dois famosos jogadores de golfe do país, Ernie Els e Retief Goosen, na esperança de suavizar as alegações infundadas de Trump, fanático por golfe, de um "genocídio" contra agricultores brancos no seu país.

Mas ficou perplexo quando, imediatamente após uma pergunta sobre o assunto, o republicano de repente ordenou que apagassem as luzes.

Num vídeo, Trump projectou políticos sul-africanos de extrema esquerda cantando "kill the farmer" (matem o agricultor), um canto da época do apartheid, o regime que segregou a população negra na África do Sul. Visivelmente chocado, Ramaphosa olhou para a tela, depois para Trump e depois de volta para a tela.

Entretanto, ao contrário de Zelensky, que respondeu a um Trump cada vez mais nervoso, o presidente sul-africano estava bastante calmo ao abordar o caso. Não chegou a ser convidado a deixar a Casa Branca, como aconteceu com o líder ucraniano.

"Reality show"

Outros chefes de Estado também passaram pelo mesmo exame. Alguns saíram praticamente ilesos e até com algum prestígio.

O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, apesar de alguns sinais de nervosismo, manteve-se sereno ao afirmar que o seu país "nunca estará à venda" diante das várias declarações de Trump sobre tornar o Canadá o 51º estado dos Estados Unidos.

O britânico Keir Starmer conquistou o republicano com uma carta do próprio rei Charles III, enquanto o presidente francês Emmanuel Macron manteve o seu "bromance" com Trump com demonstrações públicas de afeto e elogios recíprocos.

Alguns dos aliados ideológicos de Trump saíram-se ainda melhor. O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, recebeu grandes sinais de afeto na Sala Oval depois de concordar com a detenção de migrantes numa prisão no seu país.

Mas até mesmo alguns dos seus aliados mais próximos se viram em situações desconfortáveis.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi recebido de forma calorosa como o primeiro convidado estrangeiro no segundo mandato do republicano, mas a história foi bem diferente quando retornou em abril.

As câmeras da Sala Oval capturaram o seu rosto surpreso quando Trump anunciou que Washington estava a negociar com o Irão.