
Na semana passada, o Papa americano-peruano ofereceu-se para mediar entre beligerantes de todo o mundo, afirmando que a Santa Sé está pronta "para ajudar os inimigos a aproximarem-se, cara a cara, e falarem".
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, aceitou o desafio e, na segunda-feira, sugeriu a Leão XIV que o Vaticano seja sede de novas conversações de paz com a guerrilha do ELN, com quem suspendeu negociações em janeiro em virtude de um estalar de violência no nordeste do país.
"Há uma segunda oportunidade" com o Exército de Libertação Nacional (ELN), disse Petro numa declaração em vídeo divulgada pela Presidência colombiana após uma reunião com o sumo pontífice. "Falei com o Papa sobre esse tema: como o Vaticano pode ser a sede das novas conversações de paz?".
O Vaticano ainda não comentou sobre essa solicitação, mas afirmou a sua disposição de sedear conversações de paz sobre a Ucrânia, disse a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni na terça-feira.
Os Estados Unidos, a Ucrânia e a União Europeia vêem com bons olhos essa iniciativa, depois que as primeiras conversações entre Kiev e Moscovo desde 2022, celebradas na Turquia em meados de maio, foram concluídas sem nenhuma trégua.
Segundo uma fonte próxima ao caso, Kiev "está a falar" com três países que na teoria podem aceitar receber novas negociações: Turquia, Vaticano e Suíça.
Embora "tudo ainda esteja numa fase muito precoce", o Vaticano "pode ser uma boa plataforma, pois é um centro moral compreensível para todos", acrescentou.
Questionado pela AFP sobre o assunto, o Vaticano recusou-se a comentar.
No entanto, a imprensa italiana e internacional já está vislumbrando um novo capítulo em sua diplomacia, com o Wall Street Journal sugerindo uma sessão de negociação em meados de junho.
“A Santa Sé gostaria que isso acontecesse, porque a colocaria de volta no tabuleiro de xadrez diplomático mundial depois de um período sob o comando de Francisco, quando parecia fora do jogo na Terra Santa e na Ucrânia”, disse à AFP uma fonte diplomática europeia em Roma.
Para François Mabille, diretor do Observatório para a Geopolítica da Religião na França, a perspectiva é “crível”, mas ainda há pontas soltas.
Por exemplo, ainda não se sabe se Moscovo vai querer participar, algo que certamente não pode ser dado como certo.
Na quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que “nenhuma decisão sobre o futuro local das negociações” havia sido “tomada (...) e que Moscovo "ainda" não havia recebido nenhuma proposta concreta do Vaticano.
Para o presidente russo, Vladimir Putin, “a questão é saber quais vantagens simbólicas ele poderia obter”, de acordo com François Mabille.
Em 2014, a Santa Sé sedeou conversas entre os presidentes israelense e da Autoridade Palestina na época, Shimon Peres e Mahmud Abbas, que plantaram uma oliveira nos jardins do Vaticano ao lado do Papa Francisco.
Cinco anos depois, o jesuíta argentino recebeu os beligerantes do Sudão do Sul.
Mas, de acordo com vários especialistas, o contexto desta vez é muito diferente, já que a possibilidade de um acordo de paz parece improvável, pelo menos a curto prazo.
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