Até ao momento, aqueles territórios têm sido relativamente poupados pela pandemia, com um total de 447 casos e três mortos registados entre os cerca de cinco milhões de habitantes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Mas a crise afetou a atividade económica, como em muitos outros locais, numa altura em que as autoridades estão sob pressão para aumentar as medidas relativas à saúde e de relançamento económico.
“Antes mesmo da pandemia de covid-19, cerca de um quarto dos palestinianos vivia sob o limiar da pobreza, 53% em Gaza e 14% na Cisjordânia. Segundo estimativas preliminares, o número de lares pobres deve aumentar para os 30% na Cisjordânia e 64% em Gaza”, indica o Banco Mundial no seu relatório divulgado hoje.
O impacto deve ser maior na Cisjordânia porque dezenas de milhares de palestinianos do território trabalham em Israel, onde os salários são mais altos e que também foi afetado pela crise. Devido ao novo coronavírus o número desses trabalhadores caiu, o que contribui para uma “redução significativa” da sua contribuição financeira.
Após semanas de proibição de entrada em Israel, milhares de trabalhadores da Cisjordânia foram autorizados no início de maio a regressarem no quadro de um recomeço gradual da economia local.
Um acordo entre Israel e a Autoridade Palestiniana permitiu o regresso de 40.000 dos cerca de 100.000 trabalhadores e, no domingo, o número subiu para mais de 60.000, segundo as autoridades israelitas.
Mas, “nesta fase, não é possível saber quanto tempo levará a economia a recuperar das medidas de confinamento”, sublinha o Banco Mundial, que espera uma contração do produto interno bruto (PIB) nos territórios palestinianos este ano entre os 7,6 e os 11,2%.
Em relação ao orçamento palestiniano, é esperado este ano um défice de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,3 mil milhões de euros), quase o dobro do ano passado.
A situação deverá tornar-se “cada vez mais difícil” para a Autoridade Palestiniana, que vê diminuir as suas receitas e aumentar as despesas com a saúde, nota o Banco Mundial.
Neste contexto e para relançar o emprego no setor das tecnologias, o Banco Mundial pede medidas para relançar a filial da telefonia móvel nos territórios palestinianos. Na Cisjordânia ainda prevalece a 3G (telefonia móvel de terceira geração) e em Gaza a 2G.
As Nações Unidas, por seu turno, pediram num relatório divulgado no domingo a aplicação de “medidas mais audaciosas e diferentes” para “evitar uma destruição da economia”.
A organização saudou o empréstimo de 800 milhões de shekels (cerca de 210 milhões de euros) à Autoridade Palestiniana que “constituirá uma ‘boia de salvação’ fiscal essencial” e que deve ser concedido em várias parcelas a partir de junho para compensar a perda de receita provocada pela crise sanitária.
As Nações Unidas alertaram também para as consequências desastrosas do projeto israelita de anexação de partes da Cisjordânia, território palestiniano que o Estado hebreu ocupa desde 1967.
O Governo israelita deve pronunciar-se a partir de 1 de julho sobre a aplicação do plano norte-americano para o Médio Oriente, que prevê a anexação por Israel do vale do Jordão e dos colonatos na Cisjordânia.
Além de “violar a lei internacional”, a anexação poderá “complicar seriamente a ajuda ao desenvolvimento que a ONU e outras organizações dão aos palestinianos”, segundo as Nações Unidas.
“Se continuar a tendência atual, as realizações do governo palestiniano nos últimos 25 anos desaparecerão e a situação de segurança (…) piorará, o que levará inevitavelmente a políticas mais radicais de ambos os lados”, alertou.
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