“Trazemos o nosso passado”, conta a alemã Renata Voigt, de 74 anos, que segura um cartaz branco, letras pretas, onde se lê “Omas Gegen Rechts” (Avós contra a direita), um movimento que começou na Áustria e junta cerca de 70 mulheres em Berlim.
“Nasci em 1945, ainda durante a guerra. Tive de viver com este passado que ainda carrego às costas. Houve uma altura em que ainda pensei que as coisas estavam bem, mas recomeçou tudo, não apenas aqui, na Alemanha, mas no mundo inteiro. Isto não pode continuar e repetir-se, não pode”, sublinha.
“Sou avó, tenho netos, não quero que as crianças tenham de viver com isto, não é justo”, vai explicando Renata Voigt, enquanto ao lado um grupo vai tocando a canção italiana “Bella Ciao”, hino adotado pela resistência antifascista, entre 1943 e 1945.
As músicas vão-se misturando, tal como os cartazes de várias cores, as bandeiras, balões e as idades dos que se juntaram em Alexanderplantz e noutros pontos da capital alemã.
“É um vestido azul escuro com estrelas amarelas, claro, e nas costas tem uma página de um calendário que assinala o dia 26, o dia em que votamos aqui na Alemanha”, descreve Katharina Borngaesser, vestida a rigor para os protestos de hoje.
Na cabeça traz uma fita, também com estrelas, e várias ideias que espera poder passar a outros jovens, como ela.
“Estou a lutar por uma Europa mais democrática. Por causa do crescimento dos movimentos populistas e nacionalistas é cada vez mais importante sair às ruas, é fundamental mostrar que a maioria faz mais barulho e é mais forte que uma minoria de extrema-direita”, sustenta a alemã.
Em entrevista à agência lusa, a organização da manifestação “Uma Europa para todos – o teu voto contra o nacionalismo” (Ein Europa für Alle – Deine Stimme gegen Nationalismus”) confessava esperar “dezenas de milhares de pessoas”, contando para isso com “uma ajudinha do tempo”.
O sol intenso obriga Mia, de 3 anos, a usar chapéu. Vai-se escondendo, envergonhada, atrás de uma bandeira enquanto a mãe, Katarina Brücke, explica a importância de trazer a filha a esta manifestação.
“É muito importante que a Europa se mantenha unida, sem muros, sem barreiras, é fundamental passar essa mensagem ao mundo. Quero que os meus filhos vejam isso, por isso trouxe-os comigo hoje”, defende a alemã.
Ao lado, Christine Brabant vai ouvindo com atenção algumas mensagens dos movimentos que aqui se juntaram hoje.
Mais de cem organizações estão representadas, desde a “Greenpeace”, com balões gigantes, ao movimento político “Volt”, que vai distribuindo panfletos.
Uma música rap vai repetindo “no more Pegida” (movimento alemão de extrema-direita) enquanto a jovem, de 26 anos, vai explicando que sim, tem medo do crescimento do nacionalismo na Alemanha.
“Ainda acredito que, como estamos cientes que este problema existe, podemos combatê-lo. Este não é um problema apenas alemão, é um problema de muitos outros países europeus”, exclama.
As manifestações contra o nacionalismo decorrem em sete cidades alemãs: Berlim, Hamburgo, Munique, Colónia, Estugarda, Leipzig e Frankfurt.
Mas também em vários pontos de outros 12 países, da Áustria, à Espanha, passando pela Polónia ou Bulgária.
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