Sob o lema: “Não queremos viver num país do medo”, a concentração contra o racismo e a violência foi organizada por diversas estruturas da sociedade civil, coletivos artísticos e associações, entre as quais a SOS Racismo, A Plateia e os Artistas Unidos, com iniciativas semelhantes a decorrer em Coimbra e no Porto.
O forte calor que se fazia sentir não travou os vários manifestantes que foram ocupando o Largo de Santos, num ambiente marcado por indignação e solidariedade ao mesmo tempo.
De cartazes erguidos, e muitos com cravos na lapela, os manifestantes entoaram palavras de ordem como “Fascismo nunca mais, 25 de abril sempre”, com o Largo de Santos a revelar-se pequeno para acolher todos os participantes, que começaram a desmobilizar, aos poucos, a partir das 17h30.
Entre os participantes, Emília Margarida Marques sublinhou a urgência de reagir: “Quando há atentados às liberdades fundamentais num país que sofreu 50 anos de ditadura, não podemos ficar calados”, disse à Lusa.
Emília Margarida Marques acredita que o país corre o risco de regredir “em termos da cultura, da educação, do pensamento” e alertou que “as pessoas estão a perder o acesso a ferramentas fundamentais para serem humanas na sua plenitude”.
Questionada sobre o impacto da concentração, respondeu: “Se não se fizer nada é que não mudará. Não sei se esta, em particular, vai ter impacto, mas foi assim que se derrotou o fascismo há 50 anos. É esse o caminho.”
Rui Lagartim, de 58 anos, destacou o simbolismo do momento e a necessidade de unidade: “Os sinais de intolerância, de fanatismo e de violência são muitos. Precisamos de nos ver agrupados, juntos, solidários. Gente de todos os quadrantes”.
Referindo-se aos tempos pós-revolucionários, recordou o espírito dos chamados “unitários”: “Havia quem dissesse: ‘és do PCP? Do PS?’ E outros respondiam: ‘não, sou unitário’. Precisamos de recuperar essa ideia”.
Para Rui Lagartim, a mobilização de hoje é um gesto de resistência e esperança. “Temos que manter este oxigénio de esperança e acreditar que, se estivermos atentos e unidos, eles não passarão”. E completou: “Mas a verdade é que eles próprios dizem que já passaram. E isso é muito triste. Por isso, temos de dizer mais alto: não passarão, não continuarão.”
A presença de representantes do Livre, PCP, Bloco de Esquerda e PAN deu também um sinal político, com os partidos a defenderem o reforço de uma resposta institucional firme face ao crescimento de discursos e ações de extrema-direita.
Adérito Lopes, ator da companhia A Barraca, foi agredido na noite do Dia de Portugal quando se preparava para entrar no espetáculo “Amor é fogo que arde sem se ver”, homenagem a Camões, com entrada livre. Segundo a diretora da companhia, Maria do Céu Guerra, o ataque ocorreu por volta das 20h00, à porta do teatro Cinearte, onde um grupo de neonazis exibia cartazes xenófobos e provocou vários artistas antes da agressão.
Na quarta feira, o Ministério Público confirmou a abertura de um inquérito aos acontecimentos.
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