“O CDS não deu a mão ao Partido Socialista. Isso é absolutamente falso. Quem deu a mão a uma decisão tomada pelo Governo do CDS foi o Partido Socialista”, afirmou, exaltado, Francisco Rodrigues dos Santos aos jornalistas, a meio de uma visita ao Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas (SISAB), no Altice Arena, em Lisboa.
Rodrigues dos Santos explicou a mudança de opinião relativamente à moção que levou e venceu o congresso do partido, em janeiro, na cidade de Aveiro, com o facto de ainda não ter todos os elementos à data em que o texto foi escrito e recusou entrar “em joguinhos” políticos.
Apesar do apoio à opção pelo Montijo, contestada pelos partidos à esquerda do PS, por exemplo, o líder dos centristas remeteu para o PS e o Governo a responsabilidade quanto a eventuais mudanças na lei, feita no tempo de outro Governo socialista, de José Sócrates, que dá, na prática, o poder de veto aos municípios afetados pela construção do aeroporto que se opuserem ao projeto.
“Isto não desonera o PS agora de ter que dialogar com as câmaras municipais porque esta é uma lei do Governo socialista, na altura era primeiro-ministro José Sócrates. Pedro Marques [ex-ministro das Infraestruturas] durante quatro anos nada fez para abordar o tema e desbloquear esta situação. E temos o ministro Pedro Nuno Santos que tem tido uma atitude belicista face à oposição, que nada ajuda à construção de compromissos”, disse.
Do lado do CDS, o partido tem “deveres éticos e morais de ser sérios” e falar “claro aos portugueses”, conclui Francisco Rodrigues dos Santos, já exaltado, sem responder a mais perguntas dos jornalistas, nomeadamente quanto à abertura de processos disciplinares a três juízes do Tribunal da Relação de Lisboa.
Rodrigues dos Santos disse que, no congresso, não prometeu "fazer política como a generalidade dos políticos em Portugal" e afirmou que, "uma vez demonstrado que o aeroporto do Montijo é aquele que melhor serve o interesse nacional, o setor do Turismo e a urgência de uma obra aeroportuária de interesse estratégico, o CDS só pode ter uma opção coerente".
E essa opção coerente, afirmada "de forma absolutamente cristalina aos portugueses" é que "tudo fará para viabilizar essa infraestrutura", afirmou, numa altura em que o primeiro-ministro, António Costa, estava reunido com os autarcas de seis câmaras de Lisboa e Setúbal, afetadas pela obra.
Em tom justificativo, explicou que "à data em que foi escrita a moção" ao congresso "ainda não tinha e desconhecia" as "informações que são importantíssimas do ponto de vista técnico", a começar pelo facto de o aeroporto ficar "pronto em três anos", ter mais operacionalidade do que a opção Alverca e ter um "custo de investimento do Montijo ser manifestamente inferior àquele que seria feito, por exemplo, em Alverca".
"Reunidas estas condições, só os tolos é que, perante as evidências, não estão disponíveis para alterar de posição", considerou ainda, recordando que o CDS estava no Governo, com o PSD, quando foi tomada a decisão sobre o Montijo.
Por uma questão de coerência, recusou ainda a ideia de que, agora que "está fora do Governo", diga: "já não é nada connosco e não temos nada a ver com isto", porque isso seria entrar na "trica política".
"Os portugueses estão fartos destes joguinhos. A política para mim não é isto", concluiu.
A construção do aeroporto na Base Aérea n.º 6, entre o Montijo e Alcochete, está em risco porque, segundo a lei, a inexistência do parecer favorável de todos os concelhos afetados “constitui fundamento para indeferimento”.
No entanto, a Autoridade Nacional de Aviação Civil não sabe ainda que autarquias têm parecer vinculativo na viabilização do projeto.
Segundo a Declaração de Impacte Ambiental (DIA), emitida em janeiro, cinco municípios comunistas do distrito de Setúbal emitiram um parecer negativo (Moita, Seixal, Sesimbra, Setúbal e Palmela) e quatro autarquias de gestão socialista (Montijo, Alcochete, Barreiro e Almada, no mesmo distrito) deram um parecer positivo.
Para que o aeroporto possa avançar, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, defendeu no parlamento a alteração da lei, mas o PSD e os partidos à esquerda já se mostraram contra a hipótese.
Em 8 de janeiro de 2019, a ANA e o Estado assinaram o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa e transformar a base aérea do Montijo num novo aeroporto.
(Notícia atualizada às 13:44)
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