A concentração aconteceu na Avenida Paulista, zona que tradicionalmente acolhe manifestações políticas em São Paulo, e teve uma grande adesão de jovens que empunhavam cartazes e entoaram cânticos em defesa da maior floresta do Brasil.
Diferente de outros atos políticos que acontecem recorrentemente no país, neste não havia organização de movimentos formais nem carros de som. No entanto, algumas organizações não-governamentais (ONG) ambientalistas marcaram presença.
Durante a iniciativa foi possível ouvir cânticos e palavras de ordem contra a política ambiental adotada pelo Governo brasileiro, que tem defendido a exploração mineral e agrícola em áreas da Amazónia.
“Bolsonaro, assim não dá, no seu Governo não dá nem para respirar”, entoaram os manifestantes, numa alusão a uma nuvem de fumo das queimadas na Amazónia que se deslocou com o vento e que se juntou a nuvens de chuva, transformando o dia em noite na cidade de São Paulo, no início desta semana.
“Agronegócio é uma vergonha, o Bolsonaro quer ‘botar’ fogo na Amazónia”, ouvia-se numa mistura de gritos e cânticos.
A ambientalista Malu Ribeiro, coordenadora do Programa de Água da ONG SOS Mata Atlântica, contou à Lusa que aquela entidade decidiu aderir ao protesto espontâneo convocado por jovens nas redes sociais em São Paulo e várias outras cidades do Brasil.
“A sociedade está a mobilizar-se, protestando contra a postura do Governo brasileiro. É importante estarmos nas ruas para mostrar que esta postura de desinteresse ambiental é uma postura do Governo e não dos brasileiros”, disse.
“Na segunda-feira, [dia em] que teve a nuvem de fumo, caiu uma chuva cheia de fuligem na região sudeste. Nós fizemos uma análise da qualidade daquela chuva e estava cheia de reteno, um componente de biomassa que é decorrente das queimadas. Isto deixou a água completamente ácida e exemplifica o problema que as queimadas causam ao país”, acrescentou.
A manifestante Isabela Nascimento, de 18 anos, contou o episódio climático que chocou os moradores de São Paulo esta semana e que motivou a sua presença na iniciativa, em defesa da Amazónia.
“Decidi vir ao protesto depois do dia ter virado noite, na segunda-feira, e percebi que a situação das queimadas [na Amazónia] estava muito séria. Eu sempre me interessei pelo meio ambiente, mas acho que depois deste evento fiquei mais engajada”, disse.
Rafaela Donato Ribeiro, de 17 anos, afirmou que tomou conhecimento do protesto na rede social Facebook e que aderiu porque não gosta do Governo liderado pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
“Eu não gosto do Governo. Além da causa ambiental, ele [Presidente do Brasil] despreza minorias e temos que lutar por qualquer causa que ele vai contra. O Governo brasileiro não leva a sério o desmatamento, a poluição e nega a realidade”, frisou.
“Há muita ideologia no pensamento do Bolsonaro. Ele acha que todo mundo está contra ele, quando o que queremos mesmo é alertar”, acrescentou.
Leonardo Garcez, de 20 anos, era outro estudante que acompanhava o protesto contra a destruição da Amazónia porque há um desmantelamento conjuntural em curso no Brasil.
“O desmantelamento não é só no meio ambiente, mas na educação e outras áreas (…) Há uma negligência na política ambiental, o Estado brasileiro está cada vez mais leniente e sujeito à influência do agronegócio, deixando de lado outros aspetos como o social, dos indígenas e das pessoas que vivem na floresta”, concluiu.
Além de São Paulo, ocorreram iniciativas semelhantes em outras cidades do Brasil, como no Rio de Janeiro e Salvador. Ao longo do final de semana estão convocadas outras manifestações em pelo menos quarenta cidades do Brasil.
Aconteceram ao longo de sexta-feira protestos à frente das embaixadas do Brasil em Londres e Berlim.
Protestos também foram convocados em Paris, Amesterdão, Madrid e Barcelona. Uma vigília ocorreu também em Lisboa.
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta.
Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018.
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