Numa intervenção no parlamento alemão, por ocasião do debate sobre o orçamento para 2019, Merkel rejeitou o apelo dos deputados nacionalistas para que a Alemanha retire o apoio ao Pacto Global para as Migrações, documento que deverá ser adotado no próximo mês de dezembro numa cimeira intergovernamental em Marraquexe, Marrocos.
Vários países — Estados Unidos (o primeiro país a fazê-lo), Hungria, Áustria, Israel, Austrália, Polónia e a República Checa — anunciaram até à data que não vão assinar este pacto da ONU não vinculativo.
A chanceler alemã disse aos deputados que o Pacto Global para as Migrações irá garantir muitas das “condições razoáveis” já existentes na Alemanha, como o direito dos migrantes de ter acesso a serviços de saúde ou de obter apoio financeiro, em outros locais do mundo.
“É por isso que é do nosso interesse nacional que as condições em todo o mundo, por um lado, para os refugiados, e por outro lado, para os migrantes, sejam melhoradas”, referiu Merkel.
As autoridades alemãs esperam que o Pacto Global para as Migrações reduza o fluxo de migrantes para a Alemanha, ao garantir que estas pessoas tenham acesso a condições benéficas e humanas em outros locais do mundo.
A oposição ao Pacto Global para as Migrações tem vindo principalmente do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que entrou no Bundestag (parlamento federal alemão) em 2017, mas alguns membros do próprio partido de Merkel (União Democrata Cristã – CDU) também começaram a questionar o acordo.
O ministro da Saúde, Jens Spahn, pediu recentemente um debate mais amplo sobre o Pacto Global para as Migrações e possivelmente, caso necessário, adiar a decisão de aprovar o documento.
O nome de Jens Spahn tem surgido entre os possíveis candidatos à sucessão de Merkel na liderança da CDU.
Em finais de outubro, a chanceler alemã anunciou que não irá recandidatar-se à presidência do seu partido e que este é o seu último mandato como chefe do governo alemão.
Ainda na intervenção no parlamento, Merkel declarou que este pacto da ONU é um exemplo de como os problemas globais só podem ser resolvidos através de uma cooperação internacional.
Ao enfatizar a importância da cooperação internacional, Angela Merkel mencionou que a Alemanha deve, em parte, o seu ressurgimento após a Segunda Guerra Mundial a instituições multilaterais como a União Europeia (UE) e as Nações Unidas.
O Pacto Global para as Migrações deu os primeiros passos em setembro de 2016, quando os 193 membros da Assembleia-Geral da ONU adotaram por unanimidade a chamada “Declaração de Nova Iorque”.
Em dezembro de 2017, o Presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu retirar os Estados Unidos deste pacto da ONU não vinculativo, alegando então que o acordo era “incompatível” com a política da atual administração norte-americana.
Após 18 meses de negociações, o texto do documento foi finalizado e aprovado, em julho último, pelos países-membros da ONU, à exceção dos Estados Unidos.
O documento deverá ser formalmente adotado numa cimeira intergovernamental em Marraquexe, agendada para 10 e 11 de dezembro deste ano.
O pacto global, classificado pelas Nações Unidas como uma “conquista histórica”, elenca um conjunto de princípios, como por exemplo a defesa dos direitos humanos, das crianças migrantes ou o reconhecimento da soberania nacional.
O documento inclui uma série de medidas para ajudar os países a lidarem com as migrações: melhor informação, melhor integração e troca de conhecimentos, entre outras.
O número de migrantes no mundo está atualmente estimado em 258 milhões, o que representa 3,4% da população mundial.
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