
Kleber Mendonça Filho foi distinguido com o prémio de melhor realização com o filme "O Agente Secreto", o terceiro que leva a competir em Cannes, depois de "Bacurau", em 2019, e "Aquarius", em 2016.
"Bacurau" ganhou o Prémio do Júri, empatado com o filme francês "Os Miseráveis".
Já em 2021, Kleber Mendonça, de 56 anos, foi membro do júri presidido pelo cineasta americano Spike Lee.
Mas não é de causar surpresa que se sinta em casa em La Croisette: como crítico, já visitou o festival cerca de 20 vezes e, em 2005, apresentou o curta-metragem "Eletrodoméstica" na Quinzena dos Realizadores, antes de fazer a sua grande estreia com "Aquarius", protagonizado por por Sónia Braga.
"Também sou programador de cinema. É algo que adoro fazer desde 1998, há quase 30 anos. Adoro descobrir curtas-metragens de jovens cineastas e montar os filmes", contou o cineasta à AFP.
A paixão que tem pelo cinema refletiu-se no documentário "Retratos Fantasmas" (2023), também apresentado em Cannes, sobre os antigos cinemas de Recife.
Mas, acima de tudo, Kleber Mendonça é um cineasta politicamente de esquerda, que não teve medo de denunciar "um golpe de Estado" contra a presidente Dilma Rousseff quando foi alvo de um impeachment no Congresso.
Quando um artista "está com raiva, frustrado, acaba transformando isso em poesia, literatura ou filmes", confidenciou, em 2019.
Casado com a produtora francesa Emilie Lesclaux, os seus filmes são baseados em guiões elaborados, com referências à política, ao cinema e às desigualdades sociais.
Assim, "Bacurau", um filme de género sobre uma pequena comunidade que descobre ter um talento especial para a violência, soou como um grito de resistência dos povos indígenas contra o governo de Jair Bolsonaro.
"O Agente Secreto" é outro thriller, que acompanha um professor (Wagner Moura) que regressa a Recife para se reunir com o filho em 1977, em plena ditadura, sem saber que a sua cabeça está a prémio.
"É engraçado porque cada filme traz novas reações. Todos os meus filmes foram muito difíceis de fazer, foram muito ambiciosos", disse o realizador que fez de Recife uma cidade emblemática do cinema brasileiro.
Na sua primeira longa metragem, "O Som ao Redor" (2012), analisa o medo que toma conta de uma comunidade após a chegada de uma empresa de segurança privada. Essa reflexão sobre as classes sociais ganhou prémios em mais de uma dúzia de festivais internacionais e foi classificada pelo The New York Times como um dos dez melhores filmes do ano.
"Aquarius", por outro lado, refletia os efeitos colaterais do progresso capitalista no Brasil contemporâneo, com uma protagonista assediada por especuladores imobiliários.
Mas o realismo de Kleber Mendonça não é límpido. Ele é tingido de elementos fantásticos, típicos de filmes negros e de terror, como, por exemplo, em "Bacurau", repleto de cenas macabras.
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