Os gritos em frente à embaixada do Brasil em Paris, que se situa no 8º bairro, perto dos Campos Elísios, variavam entre “Bolsonaro criminoso” e “G7 não presta”, com muitos cartazes em português e em francês que chamavam a atenção para a destruição que os incêndios estão a provocar na Amazónia.
A manifestação foi convocada pela organização Youth for Climate Paris e outras organizações que defendem o ambiente em França, contando com a participação de franceses e brasileiros reunidos por esta causa comum.
O protesto foi seguido de perto por cerca de 30 polícias que montaram um forte dispositivo de segurança à frente da embaixada, embora a manifestação tenha decorrido de forma pacífica.
“Os meios de comunicação internacionais têm dado mais atenção a esta questão que no Brasil. A grande questão é o desmonte das instituições no Brasil. O orçamento da agência do Governo que é responsável por implementar as leis contra a desflorestação [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA] teve o orçamento cortado este ano”, disse Alila.
A brasileira que vive há 13 anos em Paris, em declarações à Lusa, acrescentou: “E o Ministério das Relações Externas fez uma campanha a dizer que temos as melhores leis? Parece o Trump”.
Esta semana, uma publicação da embaixada do Brasil em Paris, na sua página de Facebook, onde escreveu que o Brasil é “um verdadeiro campeão da proteção ambiental” gerou vários comentários e opiniões discordantes, que trouxeram Alila e a amiga Laís à manifestação.
Nem a ação de Emmanuel Macron, Presidente francês, que já criticou abertamente a falta de ação do seu homólogo Jair Bolsonaro, e ameaçou hoje travar as negociações comerciais entre a União Europeia e o Mercosul, parece chegar para resolver esta crise ambiental.
“Eu não acho que isso seja suficiente. É preciso tomar muito cuidado com a forma, a retórica que é usada, porque Jair Bolsonaro está à frente de um Governo de extrema-direita soberanista e, na opinião deles, qualquer tipo de crítica de um país europeu sobre a Amazónia vão tomar como um ataque à soberania do Brasil”, indicou Alila.
Também os franceses consideram que o seu Presidente deve ter maior cautela quando se dirige aos países estrangeiros.
“Não sabemos quem vai conseguir travar esta situação, já que Bolsonaro veio dizer que Macron tem intenções colonialistas quando fala sobre os problemas internos do Brasil. A única coisa que nos resta e que pode ser eficaz, é virmos para a rua e manifestar-nos”, considerou Danielle.
A parisiense, que disse ter vindo até à embaixada por participar “há anos” em todos os protestos na capital que dizem respeito ao ambiente, mostrou-se impressionada com a predominância de jovens na manifestação.
“Fico muito contente de ver que os jovens continuam as nossas lutas”, indicou Danielle.
Uma jovem de 17 anos que representava a Youth for Climate Paris, Margot, disse à comunicação social que Macron “critica muito, mas age no sentido contrário”.
“Nós denunciamos o liberalismo económico e a questão ambiental é mais do que urgente. Vamos continuar a lutar pelo nosso futuro”, declarou a jovem.
Várias organizações ambientais estão a preparar, para 20 de setembro, uma “Greve pelo Clima”, que já tem mais de 15 mil presenças confirmadas nas redes sociais.
No evento, os jovens dizem que farão greve às aulas e pedem a toda a população ativa na capital que se junte a eles para chamar a atenção para os problemas ambientais.
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