Com o mote “cuidar sim, matar não”, e defendendo que “a vida está em primeiro lugar”, os manifestantes foram usando da palavra e dando o seu testemunho e opinião num palco improvisado, sempre na “defesa da vida”.
Uma dessas vozes foi Jorge Pires, da organização do protesto, que assumiu estar descontente pela forma como alguns querem aprovar a lei da despenalização da eutanásia.
Dizendo que um assunto desta natureza não pode ser tratado de forma “leve e leviana”, o também porta-voz da Associação Pediátrica Oncológica considerou ainda não ter havido um debate sério.
“Temos a obrigação de dar cumprimento aos cuidados paliativos porque não estão a ser cumpridos”, declarou.
Para Jorge Pires, a vida não é referendável, mas sim inviolável: “Ninguém quer morrer”, opinou, acrescentando que quem diz o contrário está em “desespero emocional” e debilitado.
“Não te deixes enganar. Não há morte com mais dignidade do que aquela que não escolhe dia, nem hora”, lia-se num cartaz empunhado por uma criança, enquanto o médico António Sarmento assumia não poder estar de acordo com a legalização da eutanásia, porque em 42 anos de atividade nunca ninguém lhe pediu para morrer.
Comentando que ninguém tem o direito de tirar a vida ao outro, o clínico do Centro Hospitalar Universitário de São João disse temer que se possa abrir um precedente com a despenalização, levando as pessoas a pedir para pôr fim à vida apenas porque se “sentem um fardo”.
Também absolutamente contra a medida esteve António Vasconcelos, de cartão vermelho em punho, frisando que a vida foi dada por Deus e, por isso, ninguém tem o direito de nela interferir.
“Não há direito. Isto não pode ser, por isso, ainda acredito no bom senso dos deputados na hora da votação”, comentou.
Na sua opinião, as pessoas não têm a ideia real do que é a eutanásia, ainda há desconhecimento e confusão sobre o assunto.
“A medicina não é suicidária”, declarou, por seu turno, o médico Mário Gonçalves, considerando que a eutanásia vai prejudicar a prática médica: “Matar não é normal, normal é cuidar”.
A também médica Maria Gonçalves pediu mais cuidados paliativos, maior sensibilidade e que Portugal não implemente uma “cultura de morte”.
A Assembleia da República agendou para 20 de fevereiro o debate dos projetos do BE, PS, PAN e PEV sobre a despenalização da morte medicamente assistida.
Em 2018, a Assembleia da República debateu projetos de despenalização da morte medicamente assistida do PS, BE, PAN e PEV, mas foram todos chumbados, numa votação nominal dos deputados, um a um, e em que os dois maiores partidos deram liberdade de voto.
Há dois anos, o CDS-PP votou contra, assim como o PCP. O PSD dividiu-se, uma maioria no PS votou a favor, e o PAN e o BE votaram a favor.
Face ao resultado, os partidos defensores da despenalização remeteram para a legislatura seguinte, que saiu das legislativas de outubro, a reapresentação de propostas, o que veio a acontecer.
Na atual legislatura, há, de novo, projetos de lei sobre a morte medicamente assistida apresentados pelo BE, PS, PAN e PEV, que determinam as condições em que é despenalizada a eutanásia.
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