"Se o Governo não incluísse matérias dos outros partidos no programa de Governo, dir-se-ia que este era um Governo autocrático, que não queria dialogar com ninguém e que se achava autossuficiente. O Governo inclui mais de 80 propostas dos outros partidos no programa de Governo e tem críticas na mesma", notou Hugo Soares, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, depois de ter estado reunido com a sua bancada parlamentar.

O social-democrata considerou que esta "é daquelas coisas que interessam muito pouco aos portugueses, porque o que realmente interessa é saber o mérito das propostas e saber se elas resolvem os seus problemas no dia-a-dia".

"O Chega critica porque nós incluímos medidas, o Bloco de Esquerda queixa-se porque nós incluímos poucas medidas. De facto, é bom que os partidos da oposição se entendam", argumentou, saudando de seguida a iniciativa do executivo, que disse ter incluído 80 medidas da oposição no seu programa, que será debatido na terça e quarta no parlamento, incluindo 27 do Chega e 25 do PS.

De acordo com o documento disponibilizado pelo Governo à Lusa, foram contabilizadas pelo executivo no seu programa 16 medidas como tendo origem na IL, seis no Livre, duas no PCP, duas no PAN e uma no BE e outra no JPP.

No que toca à imigração, Hugo Soares afirmou que as propostas incluídas no programa do Governo - alterações à lei da nacionalidade ou avançar com a criação de uma Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras da PSP, chumbada na anterior legislatura - estavam todas no programa eleitoral da AD apresentado em maio.

"Para se poder discutir é preciso ler e é preciso estudar. Se houve candidatos que não leram os programas das outras forças políticas, isso já não é um problema nosso, é um problema dos próprios", atirou.

Hugo Soares realçou que "é necessário, quando se fala, que se fale com propriedade".

"Mas no caso em concreto, nós já estamos habituados a que o deputado André Ventura seja o campeão dos polígrafos falsos, é só mais um", criticou.

Depois de o líder do Chega ter anunciado que pretendia pedir o agendamento de um debate de urgência para sexta-feira, "sobre as questões da residência, da imigração e da nacionalidade atribuídas em Portugal", Hugo Soares notou que não há nenhuma discussão agendada para esse dia.

Criticando de novo o partido liderado por André Ventura, Hugo Soares considerou que o Chega, "quando percebe que lhe está a fugir o chão em que acha que é dono e senhor das propostas políticas, é uma fuga para a frente".

Questionado sobre que indicação deu aos deputados para uma eventual nova votação de nomes propostos pelo Chega para vice-presidente e vice-secretário da Mesa da Assembleia, após um primeiro chumbo, Hugo Soares disse não ter dúvidas de que a sua bancada respeitará o sentido de voto favorável.

O presidente do Grupo Parlamentar do PSD adiantou ainda que propôs hoje aos deputados sociais-democratas que as eleições da bancada se realizem no próximo dia 25 de junho, "o primeiro dia de plenário normal, a seguir ao debate do Programa do Governo".

De acordo com o regulamento interno do grupo parlamentar, esta eleição tem de ser convocada "com oito dias de antecedência, para uma data que não ultrapasse o 24.º dia posterior ao início da sessão legislativa, salvo motivo de força maior".

As listas para a direção da bancada do PSD são subscritas por um mínimo de 5% dos deputados e apresentadas ao presidente do Grupo Parlamentar ou ao vice-presidente que o substituir até às 18:00 horas do segundo dia útil anterior ao da eleição.

O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, anunciou que se iria recandidatar ao cargo na primeira reunião da nova bancada, em 02 de junho.

"É onde me eu me sinto bem e onde acho que posso continuar a ajudar o país, em primeiro lugar, e o Governo em segundo lugar", justificou então o também secretário-geral do PSD.

Na última legislatura, Hugo Soares foi eleito líder do grupo parlamentar social-democrata com 98,7% dos votos, a 09 de abril do ano passado.