O partido presidencial A República em Marcha e o seu aliado MoDem conquistaram, segundo números divulgados pelo Ministério do Interior francês à 01:00 (meia noite em Lisboa) – e sem contar as circunscrições da emigração – 341 dos 577 lugares no parlamento, muito acima dos 289 necessários para a maioria absoluta.
Esta vitória fica, no entanto, marcada pela elevada abstenção, que segundo os resultados quase definitivos atinge um recorde de 56,83%.
Este resultado histórico explica-se pela vaga pró-Macron anunciada, pela longa maratona eleitoral, que começou em outubro com as primárias da direita, e com um crescente desinteresse da política.
A direita, que inicialmente esperava privar o chefe de Estado da maioria e levantar a cabeça após a derrota do seu candidato às Presidenciais, François Fillon, obteve, juntamente com o seu aliado centrista da UD 135 eleitos, segundo os números do Ministério do Interior.
Este resultado coloca o partido como principal opositor de Macron, mas esconde profundas fraturas internas, numa altura em que as linhas políticas tradicionais parecem misturar-se.
Uma parte dos eleitos do partido conservador Os Republicanos e da UDI admitem apoiar caso a caso a ação do presidente centrista e o primeiro teste será o voto de confiança no novo governo do primeiro-ministro Edouard Philippe, ele próprio saído da direita moderada.
O secretário-geral dos Republicanos, Bernard Accoyer, apelou “à união” do partido para formar uma oposição “vigilante”.
O Partido Socialista, que controlava metade da Assembleia cessante sob a Presidência de François Hollande, caiu, juntamente com os seus aliados do PRG (partido de esquerda radical) para 43 assentos, à frente da esquerda radical (27 eleitos).
Este resultado surge na sequência da derrota do candidato socialista às Presidenciais, Benoît Hamon, que perdeu na primeira volta com apenas 6,3% dos votos.
Muitos dos dirigentes socialistas perderam mesmo o seu lugar no parlamento, a começar pelo secretário-geral, Jean-Christophe Cambadélis, eliminado na primeira volta.
Hoje, o responsável anunciou a sua demissão, minutos depois de as primeiras projeções mostrarem uma derrota histórica do seu partido na segunda volta das eleições legislativas.
Após conseguir passar à segunda volta das Presidenciais, a Frente Nacional de Marine Le Pen esperava tornar-se a primeira força da oposição em França, mas as divisões internas sobre o seu plano estratégico e político, nomeadamente sobre a questão da saída do euro, não lhe permitiram alcançar o objetivo.
O partido de extrema direita obteve pelo menos oito deputados, contra dois em 2012 – um número insuficiente para constituir um grupo parlamentar e assumir um papel significativo.
Ainda assim, Marine Le Pen, de 48 anos, consegue ser eleita pela primeira vez, depois de uma primeira tentativa falhada em 2012.
A França insubmissa de Jean-Luc Mélenchon reivindica pelo menos 15 assentos, sem contar com os eleitos comunistas, com quem deverá decidir se faz um grupo comum.
O partido de esquerda radical falhou no objetivo de se tornar a primeira força da oposição de esquerda no parlamento.
O primeiro-ministro, Edouard Philippe, deverá, entre hoje e terça-feira, e como manda a tradição, apresentar a demissão do seu governo para formar um novo, provavelmente limitado a uma ligeira remodelação.
Este político da direita moderada deverá pronunciar, a 4 de julho, a sua declaração de política geral perante os deputados.
Estas eleições ficam também marcadas por uma profunda renovação: o movimento Em Marcha apelou a novos rostos, enquanto muitos dos dirigentes mais antigos foram afastados.
Além disso, o parlamento passa a contar com 223 mulheres, quando nas últimas eleições, quando se alcançou o último recorde, só tinham sido eleitas 155.
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